Como foi na escola, filho?


Olhar o filho em atividade! Crescer os olhos e a alma vendo a criança ali, descobrindo, experimentando, explorando a vastidão de possibilidades que cada brincadeira oferece. Pais e mães gostam de acompanhar de perto os afazeres infantis, observar, estimular, mas nem sempre há disponibilidade. Lamentam, porque a vida (esta malandra!) lhes requer outras tarefas. Trabalham, estudam e não tem como estar tão perto quanto seus corações almejam e sentem falta disso tudo. Mas os relatos dos cuidadores, em sua ausência, permitem acompanhar as ações antes combinadas neste dia a dia. O telefone, a internet, também vieram na bagagem da tecnologia para ajudar nesta tarefa de “estar não estando”.
Mas e na escola? O que faz meu filho enquanto está neste espaço tão dele, tão preparado e ao mesmo tempo distante dos meus olhos no cotidiano?
Se na tentativa de participar mais, se perguntar ao meu filho como foi seu dia, a resposta é muitas vezes evasiva e tombo no vazio. Minha ansiedade materna tem que ser controlada, porque ele preserva seu ambiente sem revelar os “segredos” do seu dia, ou me diz um “Foi Legal!” para encerrar o assunto. E o Castelo Encantado dele me cerra as portas e não consigo atravessar o fosso.
Muitos de nós, pais e mães ficam perdidos com a falta de informação. Será que foi ruim e por isso ele não me conta? Será que ele teve algum problema? Parece que o fato de a criança não contar está sempre atrelado a algo negativo e a barriga fica gelada, como quando lemos as histórias infantis de bruxas e crianças perdidas.
Mas calma. Isso pode ter outra razão. Quem não gosta de guardar bem fundo uma coisa que é especial? Preservar o ambiente que é dele, não é partilhado com os adultos e familiares pode ser um motivo justo para a falta de relatos.  Isso lhes dá certo “controle” prazeroso da situação. A criança se sente feliz por “tomar posse” deste aspecto de sua vida e com isso pode não querer partilhar. Cansaço do período ou interesse em outra coisa também podem ser razões justificáveis.
A criança muitas vezes pode parecer não estar aprendendo ou acompanhando seu grupo, baseando-se nos questionamentos não respondidos em casa. Fora do contexto de sala de aula com o furor de vozes e encantos próprios, a vontade de falar esfria e a criança dá breves notícias e pronto.
Lembre-se que quanto mais a gente domina a oralidade, melhor se comunica, então é preciso considerar os limites de vocabulário, sentimentos e até a negação da partilha de relatos. O pequeno senhor da própria palavra, descobre o poder do silêncio sobre a ansiedade dos adultos!
Os pais desejariam mesmo é que a criança lhes colocasse a par de tudo o que vivenciou. Há quem sonhe com um relato alegre e empolgado no banco do carro a caminho da macarronada do almoço. Isso esgotaria a ansiedade e corresponderia a uma vontade de ter tudo controlado, mas tem que se contentar com apenas alguns relatos breves e nem sempre exatamente na ordem cronológica esperada. Isso quando não aproveitam a hora do banho, a fila da padaria, ou quando você está ao telefone para relatar um acontecimento. Crianças tem um tempo tão delas!
Muitas coisas chegam lá em casa pela imitação de alguém da escola, no meio de uma brincadeira, numa canção. E lá vem o jeito de falar da professora, a birra do amigo, a delicadeza da coleguinha. Tudo estampado no “figural” da brincadeira, sem querer querendo.
Mas não há quem não se deleite com os relatos meio ficção, meio realidade. Floreios e entremeios são acrescentados aos episódios para tornar bem mais interessante. Algo ruim é omitido e algo sem graça se doura. Assim o dia a dia fica interessante e polvilhado do ponto de vista do vivido, ainda que de forma fantasiosa.
De todo modo, perguntar é uma arte que se aprende, então sugiro que busquem maneiras de se comunicar, considerando o que se sabe do dia a dia. Por exemplo, se hoje era dia de culinária, pergunte se o resultado ficou gostoso! Quem comeu, quem não comeu? O que você cantou na aula de música? Observe murais, agendas, etc e converse sobre o que viu e leu, isso pode abrir a porta de um relato mais abrangente e das novidades do dia!
Bons Ventos!