Criança livre

Toda vez que observo um grupo de crianças brincando, principalmente se é menor de 5 anos, percebo um movimento lindo de exploração de mundo, de investigação e de êxtase com as novas descobertas. Criança tem uma intensidade muito grande no que faz e vivencia.
Após os 5 ou 6 anos, vejo a conversa que flui, entre ela e ela mesma, entre ela e os brinquedos e entre ela e a outra criança próxima. Uma série de hipóteses para entender a razão e o percurso das coisas vai construindo um diálogo que expõe a ingenuidade, mas principalmente a liberdade criativa para gerar suas ideias e o terreno fértil e efervescente de sua mente, mergulhada nas emoções e sensações do mundo.
Crianças tem belas leituras de mundo. Diferentes dos adultos, menos complexas, menos padronizadas. Leituras repletas de sonhos e de simplicidade. Quando o adulto abre espaço para  ouvir isso, descobre que nestes sonhos e na forma simples que a criança os expressa, mora justamente a ligação com a essência do ser, com a parte ainda não influenciada pelo todo, de uma vida mais energia do que consciência.
Crianças sentem, percebem, intuem o mundo. Constroem e reconstroem suas impressões sob forte influencia do olhar adulto onde se amparam. Quando este olhar tem espaço e tempo para ouvir e compreender a trajetória de suas angústias e desejos, de seus saberes e descobertas, torna-se um facilitador.
Facitando a condição, o vocabulário, a decodificação dos conteúdos físicos, emocionais e mentais que o mundo traz,  o adulto acolhe a criança na integridade. Ouvindo mais e não impondo seu ponto de vista pessoal, permite a ela ser autêntica, sem necessidade de moldá-la, mas orientando opções de caminho para a auto descoberta, o conhecimento de mundo e a relação de ambas as coisas. Isso é criar crianças livres.
Por si mesma, a vida impõe desafios, barreiras e limitações que serão vivenciados de alguma maneira e permitirão a ela refletir, elaborar hipóteses e testá-las e a partir deste tipo de movimento, desenvolver sua consciência integral.
O mundo humano que desenvolvemos ja traz barreiras de comunicação demais, com a infância. Em casa, elas precisam ter a liberdade de ser, de falar, de desnudar-se em um ambiente amoros, acolhedor, saudável e livre.
Bons Ventos!
Marcia

Só pra começar a pensar...

"Uma sociedade melhor! Felicidade!"
Uma resposta comum, quando perguntamos a uma mãe ou pai o que deseja que seu filho encontre no futuro.
Mas nossa sociedade está doente. Eu não preciso ter diploma da área de saúde para fazer este diagnóstico. Eu só preciso perceber o que existe em volta.E tudo começa no instante em que se nasce.
De repente, o aconchego quente e afetuoso do ventre está sendo trocado pelo mundo de forma anti-natural. Ao invés de hormônios do amor, que unem mãe e filho, que promovem vínculo e afeto, vem a ruptura. Troca-se fácil o espaço amoroso, seguro e conhecido dos lares, pelos espaços hospitalares insípidos, repletos de artefatos tecnológicos e absolutamente desafetivos. Ao invés de calma, silêncio e tranquilidade, temos tapas, colírios abrasivos, sondas invasivas e desnecessárias. Tudo em nome de um medo.
O medo do " Ah! Mas o que pode acontecer? Melhor prevenir!".
Temor que leva a providenciar, cada vez mais, medidas invasivas e preventivas de nada, sem base nenhuma em evidências científicas. Achismos que foram sendo perpetuados de forma veloz e não pensante nos últimos 50 anos.
Pois é, aprendi ontem, assistindo ao filme "O Renascimento do Parto ", que as evidências científicas não são a base da nossa medicina. Isso, em parte,  nos torna cobaias das mais fantasiosas ideias dos mais variados tipos de seres humanos, que vestem jaleco branco. Sim, porque não explicam para nós, leigos que "não conseguem compreender o que o médico sabe" o motivo das intervenções e sua eficácia, sua base científica, etc. Somos infantis perante a medicina e tornamos o momento de nascer, um ato não natural.
Tirar a criança da mãe sem a ajuda dos hormônios naturais, expô-la a uma dose cavalar de agressividade em nome de uma psedo segurança sem base científica, é um crime contra a humanidade.
Deixamos de receber amor, contato físico, afeto direto de nossa genitora para ficarmos no frio das salas cirúrgicas ( infelizmente a imensa maioria faz isso, sem necessidade real), expostos a procedimentos desnecessários e agressivos e assim construímos nossa primeira visão de mundo através da violência e não do afeto. Isso também  aprendi vendo o filme.
Bom aí a gente cresce, é retirado de novo da família e uma grande parcela passa grande parte de tempo nas mãos de professores, babás, empregadas e televisores. Claro, hoje também dos computadores, ia esquecendo!
E a nossa construção de ego segue, apartada de atenção, carinho e cuidado.
Sim, há exceções, claro que há. Mas infelizmente são isso mesmo, exceções!
E a vida segue, por escolas cheias de autoritarismo e imposições de formas de pensar, sentir e agir, por duplicidade de respostas emocionais que confundem, por rupturas autoritárias que doem, por palmadas, beliscões, gritos e xingamentos e por abandono afetivo.
Salvo aqueles mesmo, os das exceções!
E vamos lá na juventude, nos consolar nas baladas. Encontramos abrigos no sexo fácil, nas drogas tão deliciosamente calmantes, no álcool que "alegra", na velocidade dos veículos que nos fazem sentir poder e liberdade!
E vamos ao mercado de trabalho. Aprendemos rápido a enrolar o serviço,  a gritar com o subalterno como gritaram conosco na infância, a abusar da relação com o sexo oposto, a fazer piadas sexistas, a levar dinheiro fácil a corromper e a ser corrompidos.
No meio disso reclamamos do governo, dos impostos, da barriga, da celulite,  do trânsito, dos políticos e das passeatas chatas dos ativistas pelo sabe lá o que melhor,  no meio do caminho quando estamos indo na casa da sogra .
E a vida segue assim, bem previsível... salvo para aqueles,  os das exceções!
Eu não gosto de pintar este quadro pessimista proposital que fiz. Não gosto mas preciso fazer isso para buscar dizer que está errado. Que a sociedade melhor que você espera para seu filho não será construída desta forma e que você está se enganando.
Sim, um problema de todo mundo.
Todos nascemos, crescemos convivemos e morreremos. Todos passaremos por isso e temos que nos comprometer com a questão para poder mudar o desfecho.
O empurrar com a barriga não funciona, estamos fazendo isso há dezenas de anos e já provamos que não funciona.
Então, revolucionemos. Revolucione o pensamento sobre a vida e sobre o estabelecido, engaje-se nos movimentos que acredita, estude filosofia, aprenda, entre em grupos de discussão e não de reclamação coletiva, acompanhe os vereadores e deputados em quem votou,cobre posturas, denuncie ações inadequadas, tenha atitude!
Realize algo em prol do todo. Mas lembre-se.. é urgente. Não dá para esperar amanhã, a gente já está se afogando em inadequações sociais de todas ordem no mundo inteiro.

Mas ou acordamos agora, ou amanhã, será tarde demais.