O Silêncio Contra os Inocentes


Hora do Intervalo. Enquanto a gritaria avança pelos corredores, grupos se juntam para partilhar segredos e conversas, alguém timidamente se posiciona num canto reservado da escola. Sem partilhar o que deve ser bom do convívio, sem sorrir com as faces rosadas como deveria ser no fim da infância, quando a adolescência pretende apontar logo ali, além da curva.
Enquanto todo mundo se esbalda de rir no banco ao lado, a vítima de violência na escola, tenta ser mais invisível do que a fazem ser, para sobreviver a mais um dia.
Não numa escola pública, na escola privada como a que o meu e o seu filho frequentam. Na escola onde nós, da classe média, buscamos refugiar nossos medos da educação ruim, que o país faz questão de perpetuar há décadas na escola pública que deveria atender a todos de forma igualitária.
Crueldade é o nome que posso dar às formas de ação destas crianças desenfreadas, que ridicularizam os outros por prazer, sentem-se superiores ostentando marcas de tênis, calças e camisetas. Pessoas sem respeito por nada nem por ninguém, crentes de uma superioridade inexistente, baseadas em poder de consumo, popularidade por poder de agressão e arrogância perante figuras de autoridade.
Bullying é a palavra que se usa a largas frases, identificando o assédio físico, moral e psicológico que acontece nas escolas por aí afora. Uma forma perversa de convívio que está cada dia mais presente nas salas e corredores, como um fantasma que assombra  e se vê livre para agir, pois em muitas escolas, o corpo docente e a direção não fazem nada para exterminá-lo.
O discurso de solidariedade, diversidade e respeito às diferenças está presente no projeto pedagógico mas não no dia a dia de muitas escolas de elite deste país. Tolerância não existe no vocabulário destes espaços onde todo dia é dia de pisar em alguém. Alunos e até professores tem um comportamento violento contra aqueles que não partilham de seus valores.
Um garoto, vítima de bullying por ser diferente, enxuga as lágrimas e me conta “A professora ri junto com eles, quando digo que não conheço uma coisa ou um lugar que todos parecem saber o que é, eu odeio esta escola!” – não sei se choro por ele ou pelos seres humanos tão limitados em consciência, que cruzam seu caminho todo dia.
Um outro lamenta a perda da amizade de uma menina, porque agora ela é popular e não anda com “nerds” como ele.
O americanismo de “ser popular” chega ao Brasil na sua forma mais afiada. Pisar nos outros como se fossem insetos nojentos e ostentar consumo de marcas “carésimas” e famosas é a regra. Quem não se adequa fica no lado oposto e forma o corpo de vítimas.
Que modelo de ensino estamos criando?
Que escola para iguais é esta que se forma atrás de fachadas ostentosas e cheias de câmeras, mas que  não vê a realidade que circula nas suas áreas internas? O gueto se cristaliza e o tal espaço para a diversidade se vê abolido ou restringido aos papéis curriculares e a frases encantadoras no site oficial das instituições.
Está demorando demais para a sociedade se dar conta,  que há um tipo de violência sendo exercido e perpetuado nas escolas tanto públicas quanto privadas . Há a ilusão de uma infância protegida e com acesso livre ao conhecimento e consumo licencioso – e outra desprotegida de tudo, que só recebe o pior. Seguranças uniformizados, intercomunicadores e grades eletrônicas garantem o afastamento destas duas infâncias. E são muitas vezes os pais destes desprotegidos que parte destes superprotegidos cruéis usam para exercitar seu desrespeito, enquanto limpam paredes e carteiras, zelam por banheiros onde eles urinam por todo lado, apenas para humilhá-los.
O lugar onde a rotina deveria ser  a oportunidade de conectar mundos diferentes, trazer o diálogo e a beleza da diversidade, se faz palco de um surto de desigualdades sem fim. Onde deveriam coabitar realidades sócias culturais, socioeconômicas, ideologias e vidas diferentes, o monólogo da história única toma o comando. E onde poderia existir uma conversa na qual o “criativo” se faria o eixo transformador com base nas novas conexões entre tantos mundos, a pobreza de espírito impede qualquer contato. Ninguém cresce.
Crianças e adolescentes ameaçam os professores com petulância em frases como “Meu pai é que paga esta Bos...”. Criados muitas vezes por babás, sem pais presentes, mandam em todo mundo desde a mais tenra idade.  Alguns deles nem conhecem seus pais, assim pra valer. Não jantam juntos, não são acompanhados nas tarefas de casa, não seguem para escola de mãos dadas com eles. Sofrem o abandono assistido pelos cartões de crédito e tendem a descontar sua dor, provocando dor em quem julgam mais frágil do que eles.
Sofrem todos portando. Os que maltratam e os maltratados. Entre humanos, a dor existe, não há como fugir dela. O menino que ataca, esconde sua vulnerabilidade numa máscara de poder cruel. Máscara esta tão bem talhada, que ele acredita ser a verdade de si mesmo. O menino que é atacado, sofre com a impotência, a dificuldade de resistir sendo ele mesmo, como se isso por si estivesse errado.

Eu tenho medo do futuro que se desenha, se não virarmos a mesa e enfrentarmos esta onda de violência que começa em casa, com pais cúmplices ou pior, exemplos de deboche e crueldade. Violência que entra também pela televisão e pela internet, onde programas onde depreciar o outro é valorizado, onde é divertido ser invasivo, grosseiro, estúpido e mau.  É hora de parar de fingir que a maldade habita apenas a periferia das cidades e de nossas vidas.
Bons Ventos!

Quando o erro vem de quem ensina


Quando leio um bom texto,  minha mente navega na destreza com que o autor expõe suas ideias e faz o uso da língua com refinamento e elegância. Sinto-me encantar pelas concordâncias bem postas, pela precisa pontuação e pelo ritmo desta combinação.
Mas e na escola? Só o professor de português precisa escrever bem?
Durante algumas semanas, reparei nas queixas de mães e pais a respeito de bilhetes  redigidos inadequadamente, erros terríveis de correção e  frases ditas em sala que podem arrepiar os cabelos. Os erros de concordância verbal e nominal são os campeões.
Aprendi,  na minha estrada de vida, que o exemplo ensina mais do que a intenção. Assim era a rotina da minha casa e a da minha escola. Para nós, aqueles adultos eram dignos de ser referência, porque “sabiam” a melhor maneira de fazer as coisas e podiam nos orientar.
Claro que no meio do caminho aconteceram pedras. Durante o quarto ano do 1º grau, a professora de matemática ensinou-me de forma errada,  a construção da conta de divisão. Resultado, até hoje me atrapalho com isso e preciso pensar para solucionar. Na época, meus pais perceberam depressa e cobraram uma solução por parte da profissional e da escola, tudo foi resolvido. Mas o “erro” aprendido, não ficou desfeito.
Infelizmente, escrever com erros graves, passar conteúdos que não se domina, tem sido uma triste rotina na educação brasileira. Cabe à família observar  com atenção o que é passado na escola e cobrar qualidade. Cabe mais ainda à escola, valorizar a língua e a boa escrita, independente da disciplina ou do segmento onde o professor leciona.
Seja  no quadro, na correção de uma atividade,  na correção de provas, no bilhete que segue na agenda do aluno ou na papelada da escola: é  inadmissível um professor escrever errado.
Como aceitar  na posição de quem “ensina” a fazer certo alguém que diz ao grupo “ a maioria dos alunos fomos no passeio? Como confiar num profissional com comentários expressos  com a pérola : “Nóis ainda não fizemos”? Como familiares podem tecer laços de confiança na escola se recebem bilhetes com erros grosseiros de grafia e concordância, num mundo onde há dicionários, gramáticas e recursos tecnológicos para tirar dúvidas?
Por mais que se dê ao outro uma segunda chance (afinal todos erram e são humanos) fique de olho. Cobre da escola e de seus profissionais a melhor qualidade de oralidade  e escrita. Dificuldades não são justificativas para não se corrigir as falhas e há muitos recursos para isso.
Aquilo que se aprende corretamente se grava corretamente. Aquilo que se aprende com erros, custa-se muito tempo a corrigir  e às vezes não se corrige.
Bons Ventos!

Amigos



Alguns amigos são como brinquedos antigos.
Não sabemos ao certo quando surgiram nas nossas vidas, mas eles foram ficando, ficando... Hoje não sabemos viver sem eles, precisamos acreditar que estarão ali para sempre.
Outros amigos, são como dores de barriga: chegam de repente, vão embora de repente e mesmo que deixem alguma memória dolorida, a gente sempre lembra deles.
Tem amigos que são como chiclete: grudam e custam a nos deixar.
Outros, são como eclipses. Aparecem de vez em quando, mas a gente sempre fica feliz quando chegam e com pena quando vão embora.
Tem amigos que são como um pedaço da gente. Você precisa, está logo ali, você não precisa, está ali também, caso decida precisar.
Tem amigo para tudo: jogar bola, escutar chororô de amor perdido, acompanhar em prova difícil, torcer em campeonato de pião, aplaudir espetáculo de teatro na sala de casa.
Amigo é uma das parcerias mais polivalentes na vida.
Serve para brigar com a gente quando nos tornamos muito mandões. Servem para lutar para nos defender de baratas terríveis e pessoas destemperadas. Servem para nos dizer de uma forma compreensível aquilo que nossas mães tentaram expressar a vida toda e não deram conta.
Amigos, ajudam a pintar casas, ajudam a secar olhos tristes, ajudam a segurar felicidades que não cabem no nosso coração.
Amigos acompanham desafios difíceis, seguram nossas mãos quando temos que atravessar mares perigosos e estão sempre prontos para tomar um café na varanda, olhar as nuvens e falar da vida.
Dizem, que o primeiro amigo apareceu, quando o primeiro ser humano pediu ao grande criador do universo o maior presente já imaginado.
Quando você deitar a cabeça no travesseiro esta noite, fecha delicadamente os olhos e lembre que em algum lugar, um amigo está pensando em você.
Boa noite!
Márcia

Hoje é Dia da Concientização Mundial do Autismo


Para muitas famílias, uma realidade quase etérea, algo de que ouvem falar e não tem muita clareza do que se trata. Como uma coisa que por não se ter, não se interessa por saber. Um distância muitas vezes pautada por  um protecionismo ignorante ou por uma ilusão de mundo idealizado que não permite o inusitado.  
Para pais e mães de autistas é bem diferente.
Portadores deste transtorno, apresentam comportamentos repetitivos, restrições e dificuldades de comunicação. Precisam de atendimento específico para que possam desenvolver habilidades, que para as demais pessoas acontecem de forma praticamente espontânea.
Mas ao contrário do que deveria ser recebem pouco apoio, má vontade e preconceito por parte do poder público e da sociedade em geral.
Estas pessoas e suas famílias, precisam de atendimento de saúde especializado, inclusão escolar e suporte pedagógico específico e estruturas preparadas para o seu acolhimento. Necessitam de apoio para a inclusão no trabalho, aproveitando suas características tão peculiares.

“Autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos de desenvolvimento do cérebro, conhecido como Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).
Os outros transtornos globais do desenvolvimento são:
Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação (TGD-SOE);
Síndrome de Asperger;
Síndrome de Rett;
Transtorno Desintegrativo da Infância.

Muitos pais e profissionais usam o termo “Transtornos do Espectro do Autismo” (TEA) quando se referem a este grupo de transtornos. Você também pode ouvir os termos “Autismo Clássico” ou “Autismo de Kanner” (nome do primeiro psiquiatra a descrever o Autismo), usados para descrever a forma mais grave do transtorno.
No Brasil, o diagnóstico oficial é dado a partir do CID 10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 – Versão 2008, que define o Grupo dos Transtornos Globais do Desenvolvimentocomo alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo que afetam todo o funcionamento da pessoa, o tempo todo.

Ontem ocorreu a Corrida e Caminhada  pela Concientização do Autismo em várias cidades do país e do mundo. Em São Paulo, a ponte estaiada coloriu-se de azul, pessoas uniformizadas, carregando a alegria nos olhos, nos sorrisos e na voz deram uma demonstração maravilhosa  de respeito, valorização e humanidade.
Mas não é sempre assim.
Familiares de autistas e portadores de “Síndrome de Asperger”, enfrentam todos os dias as barreiras criadas pela desinformação, pelo preconceito e pela intolerância. Pessoas destratam seus filhos em locais públicos, retiram suas crianças de perto “daquele menino estranho”, dizem que a criança tem “espírito ruim”, “espírito do mal” e outros absurdos que não nos convém descrever.
Uma família chega a relatar que a diretora de uma escola após negociar a entrada de uma destas crianças tão especiais, cancelou a matrícula na última hora, alegando que o garoto sofreria Buliyng, seria péssimo para todos. Hein??? E qual é o papel dela de diretora e educadora neste caso?
Confesso que não me surpreendo, apesar de não aceitar que estas posturas continuem a ocorrer ininterruptamente.
É preciso mais do que o verniz para conhecer a madeira do móvel.
É preciso mais do que olhar para saber a temperatura do mar.
É preciso mais do que ler o manual para dirigir o carro.
É preciso ficar nu.
Despir-se dos preconceitos, despir-se das ideias únicas e limitadoras. Olhar o outro como ser humano, como parte de um todo.
A diferença incomoda a quem esconde de si mesmo seus preconceitos e intransigências. A diferença expõe, deflagra.
A diferença traz à tona o que as pessoas tem por dentro, tanto de bom, quanto de ruim. Viver na igualdade é fácil, difícil é olhar no espelho do mundo. Olhar e ser obrigado a ver que não somos tão doces quanto pensamos, tão gentis quanto publicamos, tão generosos quanto gostaríamos e tão “despreconceituosos” quanto supomos.
O autismo existe, tem características próprias e não é errado e nem certo, é diferente do padrão. Pessoas maravilhosas portam este tipo de transtorno e contribuem de forma incrível para a evolução humana, mas muitas pessoas não sabem, não desejam saber.
Os filhos neurotípicos nos trazem muitas alegrias com suas conquistas. Os filhos autistas, também.
Os filhos neurotípicos merecem todo apoio para crescer, desenvolver-se e trilhar sua estrada da melhor forma. Os filhos autistas também.
Hoje, vista-se de azul para ajudar esta causa e tire meia hora da sua tarde e pesquise sobre o assunto. Isso é solidariedade.
Bons Ventos!


Como foi na escola, filho?


Olhar o filho em atividade! Crescer os olhos e a alma vendo a criança ali, descobrindo, experimentando, explorando a vastidão de possibilidades que cada brincadeira oferece. Pais e mães gostam de acompanhar de perto os afazeres infantis, observar, estimular, mas nem sempre há disponibilidade. Lamentam, porque a vida (esta malandra!) lhes requer outras tarefas. Trabalham, estudam e não tem como estar tão perto quanto seus corações almejam e sentem falta disso tudo. Mas os relatos dos cuidadores, em sua ausência, permitem acompanhar as ações antes combinadas neste dia a dia. O telefone, a internet, também vieram na bagagem da tecnologia para ajudar nesta tarefa de “estar não estando”.
Mas e na escola? O que faz meu filho enquanto está neste espaço tão dele, tão preparado e ao mesmo tempo distante dos meus olhos no cotidiano?
Se na tentativa de participar mais, se perguntar ao meu filho como foi seu dia, a resposta é muitas vezes evasiva e tombo no vazio. Minha ansiedade materna tem que ser controlada, porque ele preserva seu ambiente sem revelar os “segredos” do seu dia, ou me diz um “Foi Legal!” para encerrar o assunto. E o Castelo Encantado dele me cerra as portas e não consigo atravessar o fosso.
Muitos de nós, pais e mães ficam perdidos com a falta de informação. Será que foi ruim e por isso ele não me conta? Será que ele teve algum problema? Parece que o fato de a criança não contar está sempre atrelado a algo negativo e a barriga fica gelada, como quando lemos as histórias infantis de bruxas e crianças perdidas.
Mas calma. Isso pode ter outra razão. Quem não gosta de guardar bem fundo uma coisa que é especial? Preservar o ambiente que é dele, não é partilhado com os adultos e familiares pode ser um motivo justo para a falta de relatos.  Isso lhes dá certo “controle” prazeroso da situação. A criança se sente feliz por “tomar posse” deste aspecto de sua vida e com isso pode não querer partilhar. Cansaço do período ou interesse em outra coisa também podem ser razões justificáveis.
A criança muitas vezes pode parecer não estar aprendendo ou acompanhando seu grupo, baseando-se nos questionamentos não respondidos em casa. Fora do contexto de sala de aula com o furor de vozes e encantos próprios, a vontade de falar esfria e a criança dá breves notícias e pronto.
Lembre-se que quanto mais a gente domina a oralidade, melhor se comunica, então é preciso considerar os limites de vocabulário, sentimentos e até a negação da partilha de relatos. O pequeno senhor da própria palavra, descobre o poder do silêncio sobre a ansiedade dos adultos!
Os pais desejariam mesmo é que a criança lhes colocasse a par de tudo o que vivenciou. Há quem sonhe com um relato alegre e empolgado no banco do carro a caminho da macarronada do almoço. Isso esgotaria a ansiedade e corresponderia a uma vontade de ter tudo controlado, mas tem que se contentar com apenas alguns relatos breves e nem sempre exatamente na ordem cronológica esperada. Isso quando não aproveitam a hora do banho, a fila da padaria, ou quando você está ao telefone para relatar um acontecimento. Crianças tem um tempo tão delas!
Muitas coisas chegam lá em casa pela imitação de alguém da escola, no meio de uma brincadeira, numa canção. E lá vem o jeito de falar da professora, a birra do amigo, a delicadeza da coleguinha. Tudo estampado no “figural” da brincadeira, sem querer querendo.
Mas não há quem não se deleite com os relatos meio ficção, meio realidade. Floreios e entremeios são acrescentados aos episódios para tornar bem mais interessante. Algo ruim é omitido e algo sem graça se doura. Assim o dia a dia fica interessante e polvilhado do ponto de vista do vivido, ainda que de forma fantasiosa.
De todo modo, perguntar é uma arte que se aprende, então sugiro que busquem maneiras de se comunicar, considerando o que se sabe do dia a dia. Por exemplo, se hoje era dia de culinária, pergunte se o resultado ficou gostoso! Quem comeu, quem não comeu? O que você cantou na aula de música? Observe murais, agendas, etc e converse sobre o que viu e leu, isso pode abrir a porta de um relato mais abrangente e das novidades do dia!
Bons Ventos!

O Mundo das crianças pequenas



A criança se descobre andando. E que incrível é o mundo de quem caminha sozinho! Penso que a sensação seja similar a de quem dependia de companhia para sair de casa e pode sair sozinho, explorar o mundo e viver por si as alegrias e os receios desta liberdade.
A criança neurotípica, desde pequena tem uma forte curiosidade em relação ao mundo que tem em volta.  Explora tudo usando suas aptidões motoras e perceptivas e assim vai instituindo seu mundo através de ações vivenciadas: consegue empilhar ou empurrar objetos, beber no copo, recolhe objetos e observa, morde-os, pula, etc. É um período de  desenvolvimento muito egocentrado e ela tem uma maneira pessoal de se relacionar com as pessoas e o ambiente, pois sua inteligência é vivencial, prática.
Sorri feliz ao juntar blocos, mostra gostar de ouvir músicas e versos e de cantar, se balançar, dançar e bater palminhas. Entre 1 ano e 1 ano e meio, muitas coisas vão sendo aprendidas, ela ganha desenvoltura gradualmente e também começa a desafiar, testando reações, buscando entender consequências de suas ações e lutando para ter seus desejos atendidos.
Quanta novidade! A vida floresce em descobertas e ela se vê maravilhada em meio a tantos estímulos. Cores, cheiros, formas, texturas, tudo parece convidar ao toque, a provar o gosto e a esmagar nas mãos.
Porém, ainda que cheia de curiosidade,  a criança tem baixa concentração e costuma mudar de atividade a cada instante, pois está pesquisando, aprendendo e desvendando coisas.Seu interesse e sua paciência para com uma descoberta se esvaem assim que outra coisa a estimula.
Então pega a boneca para largá-la assim que percebe um gatinho passando. Ali mesmo do outro lado da grade, desiste do gato ao ver o graveto e assim vai bailando sua pureza no universo de gostosuras do mundo.
Convém que tenha liberdade para movimentar-se e estímulos para o seu completo desenvolvimento motor. Presa ao carrinho ou ao colo, ela perde oportunidades de fortalecer as pernas, ganhar destreza nos passos e equilíbrio. A curiosidade pelo entorno, serve tanto de estímulo para andar, quanto para explorar texturas, pesos, objetos, cores, sensações as mais variadas que possa encontrar.  Contenha seu desejo adulto de evitar tudo, permita que ela busque, explore, teste e eventualmente lide com uma consequência ou outra. Cair, tropeçar, bater uma testa, são aprendizagens de limites reais, ensinam também. Cuide no entanto para evitar perigos maiores, pois ela não tem a menor noção de riscos.
A brincadeira deve ser a que usa suas habilidades de exploração e suas habilidades motoras. Empilhamentos, colocar potes dentro de outros potes, bater latas, tirar, colocar, lamber e provar,  agregam conhecimentos a respeito dos objetos.  
Rabiscar com lápis, giz, canetas hidrográficas será uma fonte de diversão, descobertas e alegria, desde pouco menos de um ano de idade. Mas cuide para que o espaço onde faça isso não seja causador de estresse familiar. Planeje. Oriente, brinque também.
“No meio do caminho, tinha outra pessoa... tinha outra pessoa e eu não consegui considerar!”
Pode ser este o jeito adulto de perceber a fase egocêntrica infantil. A criança não consegue separar-se de seu próprio ponto de vista, então não dá conta de reconhecer o outro e levá-lo em consideração nas situações. Ela tenta adaptar o que está no mundo a si mesma, a seus desejos e vontades. Isso gera situações problema, que muitos adultos tem dificuldade de entender.
Como não consegue partilhar seus objetos, mas arranca o objeto de outra criança “à força”, por desejar muito tê-lo, pode ser erroneamente interpretada. Passa por briguenta, egoísta ou mal educada. Mas ela não é capaz de conter os desejos e menos ainda de entender porque não pode satisfazê-los. Cabe ao adulto ajudá-la nestas coisas com bom senso e muito amor. Explicar muitas vezes, mesmo que ela não guarde as informações. Carinho e amor ajudam a criança a desenvolver a compreensão, a aprender a controlar suas respostas automáticas e ter mais harmonia nas relações.  Nesta fase, excesso de “não”, cara feia, “colocar para pensar”, gritos, apenas criam medo, ansiedade e respostas estressadas. Com afeto, carinho e firmeza, tudo se resolve melhor.Tudo lento e gradual como deve ser.
Ao mesmo tempo em que aprende muito, a criança testa a reação dos pais e se recusa a obedecê-los. Ela atira objetos e fica observando a reação do adulto. Gosta de esperar o resultado. Se bem conduzida, ela aprenderá que não deve atirar os objetos, que pode usá-los de outras formas, basta mostrar a outra forma de maneira alegre e interessada. Ela de pronto se interessa e muda de ação.
Nesta fase a criança necessita muito do apoio, só assim ela desenvolve segurança. Ela brinca e interage com outras crianças de forma limitada, primária.  Água, areia, marcas, bolos, massinha, farão sucesso com essa faixa etária. Mas brinque com ela, perto dela.
Os pais são a referência primeira e a criança percebe o que eles sentem, mais do que eles dizem ( às vezes parece saber a respeito da gravidez da mãe antes que lhe seja dito e comumente regride em comportamentos que já havia superado, como voltar a fases  de xixi ou falar como bebê ).
Tenta imitar seus pais em suas atividades e maneiras de ser, o que fica divertido para quem observa. Formas de sentar, de andar, de falar e de comunicar-se gestualmente, surgem inocentes nas mãozinhas gorduchinhas desta idade.
Ser criança não é fácil, sente-se dependente do adulto, precisa dessa proteção e busca ter ao alcance das mãos um objeto familiar, que traz segurança e calma. Assim entra em cena o objeto de estimação como boneco, urso, cobertor, chupeta, brinquedo, etc. Funciona como uma transição entre o lar e a escola, o lar e a casa dos avós. O objeto representa para ela todo o cuidado, afeto e segurança.  Dormir abraçada a ele é como dormir no colo da mãe. Perdê-lo pode ser um problema bem complicado!
Quando se é criança pequena, fica difícil a separação da figura materna. Um afastamento provoca lágrimas e é preciso certificar-se de que a mamãe voltará. Assim, as fases de adaptação na escola, com babás, com a casa dos avós, podem ser regadas a bastante chororô até que se sinta segura dos acontecimentos.
Ao mesmo tempo, o pequeno ser busca em certos momentos uma maior independência, começa a manipular sozinha canecas e colheres mesmo que derrube o suco e o alimento, pois ainda não consegue prever as reações dos objetos. E eles reagem! Caem, viram, pesam!
E nesta dança encantada com a vida e mundo, a criança inicia a construção de sua noção do EU, sua identidade, o conceito de si mesma. Diferencia-se dos objetos e das pessoas, dá a largada para perceber a ela mesma como um indivíduo. Repara no afeto, no carinho. Nota como a tratam e deseja ser tratada com amor e afeto. E como tudo isso é fantástico para criar a base de seu desenvolvimento social!
Mas nem tudo é simples. Criar rotina, vir a organizar-se no espaço e nos vínculos afetivos cria angústias e “descompensações”. Reações de tristeza, raiva, irritabilidade, serão importantes e aparecerão assim que perceber as primeiras noções de ordens e limites. Mais uma vez o carinho, o afeto será o norteador do que “pode” e “não pode”, pois que a mesma pessoa que acaricia fala “não” e isso é um grande aprendizado para o ser humano em formação.
Tantas são as mudanças! Higiene corporal também se torna um foco nesta idade. Treinar usar o banheiro, desafiar sujar as roupas, idas e vindas de xixi nas calças serão normais e esperados. Como importa que os adultos esperem que esteja apta emocionalmente e fisicamente para este tipo de mudança de rotina! Qualquer investida precoce, pode adiar por muito tempo o sucesso do desfralde.
A criança pequenina tem muito a elaborar. Muitas experiências novas, podem trazer agitação para o sono, pesadelos e dificuldades de ficar longe dos pais.
Um ou outro acesso de fúria, uma intensidade de sentimentos de amor e de raiva podem assustar quem não esta preparado para sua delicada criança virar um monstrinho eventual. Neste momento é que se espera que o adulto seja “continente” e tranquilize  o pequeno. Um abraço, um colo que acalma, palavras em voz baixa e acalentadora podem ajudar muito. A raiva parece de gente grande, mas ela não é grande, não esqueça! Cuidado para não exigir de sua criança uma reação que ela não tem como oferecer.
E lembremos da  chegada da linguagem verbalizada! De poucas palavras, em um ano ela irá ampliar duas, dez vezes o vocabulário. Começa com pequenas sílabas e logo frases telegráficas surgem e em breve você tem um tagarela dentro de casa. Cante, converse, repita palavras. Ela agradece!
Na fase entre um ano e meio e dois anos, a rebeldia, a instabilidade emocional, são normais e frequentes. Um turbilhão de emoções cascateia, ela sente medo, raiva, ansiedade e os pais e adultos que a cuidam precisarão de muita, muita paciência! Ela é ativa, xereta, mexe em tudo, quer fazer tudo por si mesma. É cansativo cuidar desta criança, então prepare-se para isso. Pessoas despreparadas acabam perdendo o controle, batendo, agredindo a criança por ela ser apenas o que consegue ser aos dois anos. Essas atitudes plantam raízes profundas e criam base para reações e ataques agressivos futuros. Então respire, saia de cena se preciso, mas resolva as situações, as birras, os ataques de irritabilidade com calma e lembre-se, não são um ataque pessoal a você, são apenas traços novos de desenvolvimento e vão passar! Plante o seu afeto, limites claros e amorosos e colherá um ser humano equilibrado.
Bons ventos!

Quando coisa de criança é tratada como problema de gente grande!

A escola é um ambiente social.
Agrega  pessoas das mais variadas culturas familiares, que possuem seus valores e princípios. Um espaço de diversidade e convivência tolerante. Certo?
Penso eu que deveria ser, mas não é o que observo na prática, pelo menos não em todo lugar.
Num mundo cada vez mais povoado de discursos politicamente corretos, de defesas éticas e de discussões de assédios, as coisas estão distorcidas. Aquilo que deveria passar como diversidade, como diferentes formas de crianças e jovens aprenderem  a "ser", vivendo relacionamentos ora tranquilos, ora conflituosos, treinando a convivência e sendo moderados pela intervenção dos adultos quando necessário virou caso de vara da infância.
Numa escola paulistana, o ano de 2011 terminou com um conflito entre dois alunos de fundamental II, colegas de sala de aula, melhores amigos num semestre e repentinamente distantes no semestre seguinte.
Um aluno especial de 12 anos, portador de Síndrome de Asperger, um grau de autismo muito leve, ficou inconformado com o afastamento do amigo, que passou a rejeitá-lo nas conversas, na companhia e nos trabalhos. Movido pela frustração com a rejeição, passou a atacar o amigo pela rede social  na internet, falando impropérios, tecendo ameaças adolescentes ao outro e despejando em palavras agressivas sua dor da rejeição.
Vale expor, que para os Asperger compreender como são as emoções, as relações sociais e a forma dos outros sentirem é o maior desafio. Eles tem limitações cerebrais que os impedem de entender simbologias, metáforas, expressões faciais e muito do código de relacionamentos que usamos tranquilamente por sermos padrão neurotípico. Eles são perspicazes com palavras, tem um cognitivo eficiente e podem parecer muito eruditos numa discussão, mas a maior parte do que dizem desconhecem o significado e a consequência de suas ações.
Aquilo que deveria ser uma briga de amigos em crise, virou caso de justiça. O menino ofendido e sua família, trataram a questão como uma infração social grave. Por mais que a escola e as famílias envolvidas tentassem conversar e esclarecer a questão, inclusive obtendo a retratação do agressor, não foi possível terminar a questão amigavelmente.
Nesta semana, a mãe do menino asperger, recebeu uma intimação da Vara da Infância e Juventude para apresentar seu filho em audiência, por acusação de infração.
Não sei como acabará isso, mas sei que nunca deveria ter começado.
Onde vamos parar?
Brigas de crianças e jovens colegas de escola, vão tornar-se caso de polícia?
No meu tempo, frustrações geravam bate bocas, xingamentos até que cabeludos, uns tapas de vez em quando, puxões de cabelo e uma ida à diretoria prestar contas das ocorrências. Existiam advertências, suspensões e reuniões de pais para esclarecer as coisas.
Cada família pegava seu indivíduo "esquentado", pregava um bom discurso ético, exigia retratação e mudança de postura e dava a consequência no tamanho do problema. Pouco tempo depois, a amizade se reatava, as pessoas esqueciam o ocorrido e um aprendizado de convivência ficava registrado. A escola fazia sua parte, monitorando as relações e intervindo se necessário, os meninos aprendiam os limites uns dos outros, as regras sociais, os códigos de conduta e todos cresciam, amadureciam e tornavam-se adultos capazes de lidar com as dificuldades da vida.
Hoje, uma briga de jovens recém saídos da infância recebe o tratamento de uma agressão à mão armada.
O que pais que tomam tal atitude, esperam que o filho aprenda com isso?
O que será que pensam estar conseguindo??
Eu não sei a resposta, mas tenho certeza que alguma coisa se perdeu aí e vai fazer muita falta na vida deste pequeno ser em construção.
Tolerância à diversidade, parece ser apenas um discurso tênue que paira longe da realidade, longe deste novo senso comum que se forma sinistramente na calada das consciências.
Bons Ventos!

Estudar pode ser uma atividade lúdica

O lápis derrubado na mesa e as lágrimas corriam. Eu detestava fazer cópia de textos, nos meus tempos de ensino fundamental I. Aquilo parecia sem propósito, me cansava as mãos e a alma. Eu não tinha nenhum desejo de aprender, se aprender significava copiar o texto do livro outra vez.
Que bom que os tempos mudaram.
As metodologias novas, os projetos pedagógicos mais avançados, o olhar da escola sobre o estudo mudou. Falo da escola que abandona a tradição de "copiar o passado" sem renovar, pela simples crença de que "no nosso tempo funcionava" e passa a olhar diferente.
Escolas que se atualizam, apontam cada vez mais para a direção onde a produção do aluno é própria, desenvolvida após discussões e reflexões de grupo, incorporando saberes de mundo e saberes familiares. Estudar não precisa mais ser chato. Saber pode ter sabor agradável.
Quanto mais vejo as crianças e os adolescentes apropriarem-se do seu processo de aprendizagem, mais vejo que ficam satisfeitos com isso. Tornam-se criativos, pesquisadores, interessados a respeito de tudo que os circunda e também do que ouvem dizer que exista.
Pesquisar, não significa somente abrir o livro, buscar o site ou ler o jornal. Pesquisar e investigar um assunto pode acontecer naquela conversa da tarde com a senhora da casa ao lado, regada a bolinhos e suco. Falando de causos de antigamente, falando de tempos que ela viveu ou  da receita saboreada bem ali.
Uma compra de supermercado pode dar muito pano para a manga, como dizem. Preços, tipos de produtos, composição do biscoito, tudo pode ser tratado como objeto de estudo, se o interessado assim o quer.
"Mãe, porque eu não posso comer bolacha recheada?" - foi assim que meu filho Gabriel começou uma bela jornada de perguntas e buscas em relação à alimentação industrializada e natural. Pesquisar o bem e o mal que fazem os itens que compõe os alimentos, ensina sobre alimentação saudável, sobre percentagens, sobre saúde e por aí vai. Isso também é estudar.
Sentar-se em local apropriado, fazer a lição de casa, ler um trecho do livro escolhido, realizar contas de reforço, também é estudar.
Inventar histórias, criar jogos, criar problemas matemáticos para os outros resolverem, são maneiras lúdicas de desenvolver estudos, treinar e exercitar nossas capacidades.
Nas tardes quentes, depois de brincar com água, as crianças ficam bem felizes de sentar-se no quintal, munidas de tintas, lápis, canetinhas, revistas velhas, tesoura, cola, pincéis e papel grosso para criar dominós, quebra- cabeça, jogos de tabuleiro e de bingo. Conteúdos matemáticos, sequência lógica, cores e suas misturas, palavras, poemas, podem ser material de trabalho para desenvolver brinquedos novos e pessoais.
Com uma orientação breve sobre como usar os materiais, pequenas sugestões e muito incentivo, o conhecimento ganha vida nestas atividades lúdicas, fixando saberes, desafiando possibilidades, formulando hipóteses.
Conhecimento não precisa morar apenas nos cadernos da sala de aula. Pode e deve morar na mente e na vida da gente.
Bons ventos!

Escola nova...adaptação!

Chegar pela primeira vez na escola é um misto de emoções. O coração acelera, a mão aperta a mão do adulto e as pernas parecem ter vida a parte. Uma curiosidade grande, um medo do desconhecido, uma vontade de mexer aqui e ali. Estranhamentos e empatias.
Quando cheguei  na segunda escola da minha vida, achei tudo gigantesco. Fui de transporte escolar, então a única mão a apertar era a minha mesmo.
Assustada com a grandiosidade do prédio, a quantidade de crianças indo e vindo e falando alto, conversando. Senti medo. Senti saudade forte dos amigos que deixei na escola antiga e os olhos encheram de lágrimas. Uma amiga que conheci na perua escolar e estaria na minha sala de aula veio e me acolheu. Pegou minha mão e me ajudou a achar lugar na "fila" de espera da sala. Tudo era novo, diferente, estranho e arredio. Menos aquela mão amiga.
Minha professora foi doce e querida, isso amenizou o medo daquela escola grande e nova na minha vida. Aos poucos relaxei, mas a insegurança me acompanhou por vários dias, até que tomei posse daquele espaço, fiz vínculo com aquelas pessoas e aprendi a lidar com novas regras e novas rotinas.
Toda criança e jovem passa por algo parecido quando muda de escola. Alguns tem mais facilidade de se relacionar, outros pedem mais tempo para integrar-se.
Choros, resistências, chantagens emocionais, birras e mau humor podem acompanhar a criança nos primeiros dias. Uma defesa de um mundo desconhecido dela que  deixa insegura e vulnerável.
Conversar com os profissionais da escola é muito importante, isso dá confiança aos familiares e ajuda a equipe a entender o momento do seu filho. Exponha os medos, as verbalizações da criança e ajude a escola a acolher essa pessoa pequena de coração grande e apertado.
Escutar as colocações da criança e buscar meios de aliviar seus temores é importante. Ela pode estranhar o jeito dos outros, pode sentir falta dos amigos de antes, pode ter dificuldade de aceitar a distribuição do espaço, a rotina e até a professora. Ouça, converse, pondere e assegure de que tudo ficará bem.
Quanto mais cedo ela fizer um amigo, mais fácil será ficar . Mas alguns demoram muito a fazer isso, então calma!
Meu filho mais novo, levou 6 meses para adaptar-se definitivamente a uma mudança de período de curso e olha que na mesma escola! É a forma de ser dele, a necessidade que ele mostrou. Nada errado nisso.
Quem não tem frio na barriga no primeiro dia de emprego novo? Ao conhecer a família do companheiro? Ao viajar para um lugar de cultura diferente?
As sensações se assemelham. Só mergulhando nelas e vivendo sua intensidade, superamos a barreira dos medos e nos abrimos para o novo. Mas cada um tem seu tempo e sua velocidade.
Mostre paciência, confiança na escola nova, não se atrase para levar e buscar. Esteja na porta de  casa quando o transporte chega, se for o caso, isso dá mais segurança de que a criança é esperada.
E saiba que vai passar a fase da dificuldade.Virão amigos, histórias para contar, brincadeiras novas, ambientes novos e cheios de assunto. Em breve a criança se apropria de tudo e se sente dona do espaço.
Escola nova é como um presente que a gente ganha e não sabe bem como deve usar, demanda exploração!
Bons ventos!

O desafio de frequentar a escola pela manhã!

Lá vem o sol! Acordar, ver o dia novinho entrando pela janela na brisa fria e com o sol suave, que delícia!
Mas nem todo mundo funciona assim. Muitas famílias sofrem para conseguir que as crianças acordem cedo e pulem da cama para ir para a escola. Mau humor, socos e pontapés, recusas de alimento vão tornar a manhã um momento tenso e irritado.
São tantas as crianças sonolentas, de olhos ainda semicerrados, cabelos emaranhados e bracinhos agarradinhos ao pescoço da mãe ou do pai. Esse cenário não é incomum na entrada da escola e contrasta com outras alegres e falantes, pululantes logo cedo e cheias de atividade.
Estudar pela manhã é muito proveitoso, a mente livre e descansada, o corpo acordando e relaxado, pronto para subir, descer, correr e brincar com a face no vento. Então porque lá em casa não funciona?
Primeiro porque cada um tem seu relógio biológico e nem sempre ele é mantido em horário comercial, depois por hábitos. Ajustar as duas coisas é interessante, possível e simples.
Primeiro, desista da ideia de colocar a turminha para dormir tarde. Determine o horário que garanta pelo menos 8 horas de sono e estipule como limite para olhinhos fechados e cabeça nos sonhos.
Controle sonecas na tarde e limite para 2 horas no máximo, de modo a não deixar a criançada descansada demais. Ofereça jantar entre 19h e 19:30h, por exemplo, se o limite de horário de sono for 21h.
Uma hora e quinze minutos antes da hora de dormir, coloque a criança para brincar ou fazer uma atividade que gaste energia: correr, pular, dançar, pular corda ou o que ela gostar que seja atividade física. Mantenha a atividade por 30 a 40 minutos, dependendo do que observar da sua criança. Ela precisa ficar cansada, mesmo que ainda tenha pique de brincar mais.
Hora de baixar a energia num banho gostoso, cheiroso e quentinho. Isso relaxa os músculos, diminui a agitação e prepara para o sono. Higiene e história antes de dormir. Dado o horário, apague a luz ou abaixe, silêncio na casa (abaixe a TV dos adultos, dê um tempo no teclado do computador). Para os mais tensos, vale uma massagem leve nas costas sobre o pijama, fazendo movimentos horários circulares e falando baixo.
Quando a criança entra nesta rotina, ela passa a acordar relaxada, descansada e com muito melhor humor.
Deixe uniforme, mochila, brinquedo e o que mais precisar, preparados de véspera.
A escola ficará bem mais gostosa depois desta noite!
Acordar cedo é desafio e é aprendizado, um pouco de investimento promove ganhos até o fim do ano. Mas cuidado com a armadilha do fim de semana! Rotina alterada demais atrapalha a sua segunda feira!
Você notará que a criança melhora a atenção e a concentração nas aulas, tem um desempenho mais satisfatório e passa a curtir mais o aprendizado. Criança cansada tem dificuldade para manter interesse, atenção e desejo de saber.
Boa adaptação de rotina e um ano bem humorado para todos!
Bons Ventos!
Márcia