Vê se eu posso com essa!


Meu filho Gabriel Henrique,do topo dos seus seis anos de vida:
- Mãe, como que você é professora de artes?
- Ué Gab, eu estudei para isso, me formei, aprendi muito e passei a dar aulas de artes.
- Mas não pode!
- Por que não pode, Gab?
- Não pode. Você já é minha mãe. Mãe é mãe e professora é professora.
- Mas Gab, eu sou sua mãe e não sua professora de artes. Sou professora de outras pessoas.
- Não pode.Você tem que escolher, senão você fica uma mãe pela metade e eu gosto de você inteira pra mim!

... Ai meus ciúmes!!!

Qualquer um ensina arte... a lição do monge mostra que não!


Pois esta afirmação aparece muitas vezes em conversas soltas nas minhas andanças pelo mundo. Porque será que associam a arte em suas diversas formas, como expressão unicamente espontânea e desvinculada dos demais saberes do ensino?
Ouvi de novo.
Mas desta vez lembrei de um antigo conto indiano que serve como resposta:

Certo rei estava aprendendo a meditar. Após suas primeiras aulas de meditação, desejou adquirir rapidamente saberes mais avançados. Procurou então o Monge que era seu mestre e solicitou que logo o ensinasse o mantram que os mais adiantados usavam em suas práticas. O experiente monge sorriu com suavidade e respondeu:
Não posso ensinar-lhe, acho que ainda não está preparado.
O rei muito ofendido disse raivoso: Claro que pode, tenho total condição de entoar exatamente como você. Exijo que me ensine agora.
O monge solicitou então ao guarda que vigiava silencioso: Bata nele por mim!
Ao ouvir a solicitação o guarda arregalou os olhos, mas não se mexeu. Concentrou-se em espantar-se e ficar calado olhando o chão.
O monge repetiu: Bata no rei por mim! Nada aconteceu.
Disse então ao rei: Peça a ele que me bata.
O rei prontamente ordenou ao guarda que o fizesse.
O rapaz sem pestanejar, avançou para o monge e deu-lhe um soco que o fez cair no chão.
O monge levantou-se, olhou o rei e saiu do recinto.


A lição do monge ao rei ilustra bem meus sentimentos. Pensar estar preparado é bem diferente de estar.
E aquilo que um está pronto e tem condição de executar não quer dizer que todos podem.
Eu diria que todo mundo consegue navegar pelo mundo da Arte à sua maneira, com sua expressão pessoal e explorando com seus instrumentos.
Mas estar amparado por conhecimento técnico e educativo faz a diferença entre a "fazeção" de coisas e o ensino da arte.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que a disciplina saia do espaço de "perfumaria" de muitas escolas e seja respeitada em sua amplitude e importância na formação humana.
Um caminho que vem sendo traçado com conquistas a cada passo por inúmeros profissionais competentes e bem preparados.
Mas esta competência e preparo, também passam pela disponibilidade interna para viver e aprender novos conceitos e paradigmas. Nem sempre os títulos vem acompanhados da sabedoria que lhes é atribuída.

Um experiência curiosa


Certa vez quando eu atuava como professora de educação fundamental numa escola particular de São Paulo, minha assessora educacional na época, Anamélia Bueno Buoro, propôs uma intervenção curiosa aos trabalhos de modelagem de meus alunos de primeiro ano.
Após modelar um bloco de argila, com a imagem baseada em um brinquedo trazido de casa, deveriam derrubá-lo ao chão e deixar que este gesto se imprimisse à sua criação.
Vencida a resistência inicial,munidos de seus receios e seus trabalhos recém modelados, todos postaram-se em fileira e ao final do "um, dois,três!" lançaram seus tesouros criativos ao chão!
Surpresa e incômodo com o resultado.
De repente a perda de controle sobre a criação com o gesto inusitado, descompensou o criador, obrigando-o a adaptar-se à nova situação, reinventando sua própria invenção.
A conversa a seguir começou com relatos de surpresa e incômodo, mas cresceu aos poucos e trouxe conceitos de controle e descontrole, poder sobre o que se cria, e a estética do trabalho como perfeita e imperfeita.
A partir desta curiosa experiência, pudemos pela primeira vez discutir a questão de que "a estética supera o esteta", e a arte se torna capaz de transpor os muros do tempo e tornar-se grandiosa para aqueles que nunca conheceram sequer seus criadores.
E surgiu no primeiro ano, a linha do tempo da arte, as artes figurativas, abstratas, surrealistas, contemporâneas..

Retrato, caricatura e a cara que as coisas tem



Modelar rostos e caricaturas em massinha é um exercício delicioso de imaginar e observar ao mesmo tempo, tomando consciência do corpo e sua forma.
Olho grande, olho pequeno, narizes e bocas aguçam o olhar que se estreita e se espande, apreendendo os detalhes de rostos amigos que a gente nem percebia antes.
Crianças de 6 anos exploram as possibilidades da massa de modelar em imagens divertidas que tiram da mistura do que observam no rosto do companheiro e do que imaginam que podem mudar.
Mãozinhas ainda aprendendo a coordenar-se, descobrem gestos finos e delicados que formam cobrinhas, bolinhas, bolachas, riscos e tantas formas de mostrar sua criação. A liberdade da cor e do gesto remete a arte de Miró e Paul Klee.
A arte do artista e a arte da criança juntam-se numa dança de explorações e descobertas onde o processo de conhecer importa bem mais do que o resultado, que é magnífico, assim mesmo.

A arte como veículo da expressividade infantil



Quando observo uma criança de 2 anos explorando materiais de arte e imprimindo seu gesto nestes, é como olhar de uma janela o universo todo.
Um mundo de expressões faladas ou silenciosas vai ganhando formas e sendo elaborada por gestos e cores, o imaginário cria e recria. Nascem saberes.
Saberes ainda não cognitivos, saberes ainda sensíveis e que guardam em si uma pureza específica, alimentada no íntimo do pequeno produtor.
A ausência da intenção técnica evoca a beleza do gesto simples e autêntico, sem intervenção que não a daquele que se exprime e se revela nas tintas, nas massas, na disposição dos materiais escolhidos por critérios tão pessoais.
Permitir e promover a expressão plástica das crianças de tenra idade, é ampliar suas possibilidades de interaçãoe conhecimento de mundo interno e externo. É dar asas a quem tem sede de voar.

A ARTE por Pietro Ubaldi


A grande Síntese

Ao focalizar os problemas de minúcia da fase , coloco no ápice deles a arte, como expressão suprema da alma humana.
Nada espelha melhor a idéia dominante de uma época. Por vezes é graça e suavidade, doutras vezes, simplicidade e potência; ainda. profundidade de espírito puro, ou então, ouropel vazio de forma. Exprime sempre o pensamento humano que ascende ou decai, apro¬ximando se mais ou menos da grande ordem divina. O pensamento que ora ousa, ora repousa, ora é jovem, ora cansado, é primeira¬mente retilíneo e cortante como a força; depois, arredondamento de linhas, um escorço em descida, um inútil escorar se do vazio na grandiosidade das formas. Estilo tranqüilo ou audacioso, límpido ou enfarruscado, cansado ou poderoso, representa sempre a face ex¬terior da alma humana, do mistério do infinito que nela se agita. Como tudo o que existe tem um rosto, expressão de alma, uma re¬velação do pensamento divino em que o universo fala incessante¬mente, assim a arte é revelação de espírito. Tanto mais valerá. quanto mais a forma for transparente e simples. Quanto menos se fizer sentir a si mesma, tanto mais a idéia será substancial e pode¬rosa na eternidade, vinculada à lei, impondo se pela forma. Fenô¬meno estreitamente ligado às fases ascensionais ou às involuídas do espírito, a arte apaga se quando o espírito adormece, porque só nele reside sua inspiração. A arte é espírito, e a matéria a mata. O ma¬terialismo a matou, e agora tem de renascer.
Começareis de novo, com meios novos mas, acima de tu¬do, com uma idéia nova. O segredo de uma grande arte consiste em saber realizar o milagre da revelação do mistério das coisas; em sa¬ber exprimi lo à luz dos sentidos, após íntima e profunda comunhão com o mistério que palpita na alma do artista. Este tem de ser um vidente, normal no supernormal, onde tudo é espírito e vossa con¬cepção de vida comum não chega. A nova grande arte deve ser in¬tegral: presume o artista total, o super homem que realizou sua ma¬turação biológica, não o agnóstico, o meramente técnico; mas o es¬pírito completo sob todos os aspectos. É indispensável que o ho-mem tenha englobado em si a visão do universo, e que nela tenha atingido as mais profundas concepções de vida.
O valor apenas da técnica é dos períodos de decadência. A arte, cujo valor tenha passado da substância á forma, é a enfeita¬da e preciosa da decadência. Quem tem algo de substancial para dizer, di lo na forma mais simples. Mas é preciso ter algo a dizer, uma grande visão e grande paixão na alma para que a forma não assuma a primazia. É necessário dominar esse revestimento do pen¬samento, estar prevenido defensivamente contra as hipertrofias do meio que sufoca o fim; impedir que a técnica, serva humilde do conceito, quando este era grande em suas origens e amadurecido até a perfeição, queira agora agigantar se para sufocá lo. A forma emer¬ge na decadência, quando a idéia se cansou, surge então a luta entre a vestimenta e a substância e, se esta cede, a outra cresce, invade e domina. Trata se da substituição dos valores inferiores, quando os mais altos decaem. É a degradação do fenômeno artístico, que tem seus ciclos, que são os ciclos do fenômeno psíquico. Na evolução da arte, há uma espécie de inversão de relações: quanta riqueza de conceitos na pobreza da forma nas origens, e quanta riqueza da forma e pobreza de conceitos na decadência! Uma relação transforma se gradualmente na outra. O ciclo evolutivo da técnica, nascido mais tarde e mais jovem que o ciclo evolutivo da idéia, sobrevive lhe ou o substitui; mas sua maturidade deriva do princípio animador da arte.
A grande arte é simples. Sua grandeza é proporcional a potência do pensamento e à simplicidade da forma. Vossa atual fase artística é de destruição, de libertação da forma. Estais na última fase de descida, em que já aparece a aurora da espiritualidade nova, cujo primeiro ato é o abandono das técnicas superadas. Tende uma alma, e sede simples. As complicações ornamentais exprimem vacuidade, a riqueza de minúcias enfraquece a idéia central. Belo é tudo o que corresponde à própria finalidade; a beleza está na linha que corresponde ao fim pelo caminho do menor esforço. Ela é a expressão da correspondência, do equilíbrio, da harmonia, dos princípios da Lei. A suprema beleza reside no conceito de Deus. O artista tem que sentir e seguir esse conceito nas formas em que se manifesta. O progresso da arte reside em manifestar, com evidência cada vez mais límpida e com maior profundidade, a beleza do pensamento divino da Lei que governa o universo. A ascensão da arte é assim um processo substancial de harmonização, isto é, a expressão, na forma intuitiva do belo, da evolução de todas as coisas que observamos. O belo é universal, e pode haver um belo lógico, como um belo mecânico, uma estética grega de formas, como uma muito mais elevada estética moral e cristã de obras. Em todas as alturas, na lógica dos meios, existe uma arte de acordo com a gradação das finalidades. Quando existe um objetivo a atingir, o estilo nasce por si mesmo na forma mais simples, mais transparente, mais harmoniosa, como o encontra e o exige a lei do menor esforço. Os estilos refletidos, desejados, estudados, estão em todos os campos, em roupas nas quais em vão procurais um corpo. Não é a escola nem a análise que plasmam o artista, mas um tormento de alma, uma agitação de tempestades e de visões.
Entendo por arte a expressão dos princípios que estão na harmonia da lei e são verdadeiros em todos os campos, seja literatura, pintura, escultura, arquitetura ou música. A música atual como tudo o mais, evolui em profundidade. Sua atual evolução representa a passagem de sua dimensão linear de melodia, para sua dimensão volumétrica de sinfonia. A simples sucessão de sons da música melódica, à proporção que ascende à fase superior, em que conquista o espaço e o volume, dilata se em extensão e profundidade de sentimentos, passando da expressão das paixões mais elementares (amor, vingança) às produzidas por uma sensibilidade: mais complexa, aprendendo a descrever todas as harmonias e belezas da criação. A música volumétrica sinfônica deveria inspirar se cada vez mais numa estrutura de perspectiva, em que o desenvolvimento dos vários motivos, mesmo harmonizando se com a concepção única do quadro, permanecesse distanciada nos diversos planos. Daí resultaria, na sinfonia, grande profundidade de perspectiva, em que o motivo ou motivos do primeiro plano se distanciariam dos desenvolvimentos sinfônicos do fundo; profundidade e distanciamento não apenas em sentido sinfônico, mas também conceptual e emotivo. Por que o motivo só pode ser a expressão de uma forma ¬pensamento que nasce, desenvolve-se e morre, dominando ou subordinando se, que se aproxima ou se afasta, toca e influencia as outras, passa, volta, sobrevive na recordação, e apaga se. O motivo é a voz de uma vida que quer revelar se toda e pode fazê lo, porque a música, além da beleza da linha do desenho, além da riqueza dos tons, substitutivo da cor na pintura, possui o dom supremo do movimento, em que se exprime o transformismo da vida.
Em sua evolução, a música, além do movimento no tempo, conquistará cada vez mais profundidade no espaço, nova dimensão em que se expandirão as vozes de tantas vidas, porque tudo é vida e tem voz própria. O futuro consistirá em continuar a emprestar cada vez mais ampla estrutura sinfônica e a estender a novos sentimentos sua potência descritiva; deve purificá los e espiritualizá los, até que a música se torne a voz do infinito, a linguagem da intuição, a revelação das harmonias do universo, do aspecto beleza dos grandes conceitos da Lei. A arte busca a unificação era todos os seus aspectos; fundir se ão as diferentes artes como formas convergentes, no único esforço de exprimir o espírito. Na atmosfera artística dos templos seculares, entre os muros antigos saturados das vibrações místicas dos povos, a música será meio de harmonização de ambiente e de sintonização receptiva na oração: será vibração criadora de bondade. Todas as artes se fundirão numa só música. educadora suprema; u'a música imensa que vos falará da vida de homem e de todas as criaturas. E todas as artes serão uma oração. um anelo do espírito que se eleva para chegar a Deus.
Vossa arte futura será sadia, educadora, descida de Deus para elevar a Deus. Se assim não for, será veneno. A arte que permanece na terra não é verdadeira arte: tem de elevar se ao céu, ser instrumento de ascensão espiritual. Deveis beber nas fontes da verdade e eu vos abri suas portas. A arte tem de iluminar se com a luz do espírito, e eu o fiz reviver entre vós. Dei vos, tanto no campo científico e social, quanto no campo artístico, uma idéia imensa para exprimirdes: a da harmonia de todos os fenômenos, da ascensão de todas as criaturas, de vosso amadurecimento biológico. A arte apodera se da ciência. É verdade que não soubestes dar a esta um conteúdo espiritual, dai lhe contudo, uma fé, e ela se tornará arte. Que mundo grande, novo, inexplorado, que sinfonia de concepções cósmicas para exprimir! O futuro da arte está na expressão do imponderável. Que riqueza de inspiração pode descer sobre a Terra, vinda do alto, por intermédio do artista sensitivo! Que oásis de paz, para refúgio da alma, nessas visões do infinito!
A verdade universal desta síntese pode exprimir se em todas as formas do pensamento: matemática, científica, filosófica, social e artística. Esta obra pode também tornar se uma grande tragédia, em que palpita toda a dor e explode a paixão das ascensões humanas. Que drama maior que o do esforço da superação biológica, da luta do espírito para sua evolução, de suas quedas e de suas libertações, da felicidade e da dor, de um destino que progride através da cadeia dos renascimentos, de uma lei divina que tudo vincula à sua ordem! Esta irmanação de fenômenos, de seres, esta unificação de meios de expressão diante da idéia única, este monismo científico, filosófico, social, basta para dar alma a uma nova arte, como a uma ciência, a uma filosofia, a uma sociologia nova.
Vossos palcos ignoram tragédias tão amplas porque estes conceitos exatos faltavam antes ao mundo. Era vaga a intuição dos grandes problemas, incerta a reconstrução do destino humano. Há sempre uma zona de nebulosidade, em que se aninha a dúvida e o mistério. Está na hora de ultrapassar o ciclo restrito das baixas paixões de fundo animal. O teatro não deve ser palco de involução, explorando as multidões, mas de evolução, educando as. Então, ele não pode ser problema econômico, mas função do Estado. A arte deve superar os loucos futurismos, tomar como fundo o infinito e a eternidade, e como ator o espírito que, numa vida sem limites, se debate entre luz e trevas, e conquista sua libertação. O céu e a terra ressoam com a tempestade imensa que as forças do mal desencadearam. Apresentai o drama apocalíptico sem símbolos, em sua nua potência dinâmica de conflito de forças, em qualquer das artes em que o queirais exprimir, suspenso nas dimensões do tempo, entre a evolução bíblica e o idealismo científico.
Esta a grande arte futura. É mister que nasça o gênio que a sinta e a manifeste; que a sinta acima da realidade sensória e nela a encerre e exprima, ele que, chegado ao ápice dos valores espirituais, combate e conclui o drama da unificação e da libertação.
É necessário que uma alma superior viva o fenômeno e, em seu tormento, liqüide o passado, lançando os espíritos num vórtice de paixões mais altas e dinâmicas. É indispensável um ser que, num martírio de fé, macerando se e queimando se por sua arte, dela faça missão e a ela se dê todo. A arte será então o altar das ascensões humanas, onde o espírito se oferece em holocausto de dor e paixão em sua elevação para Deus; será a oração que une a criatura ao Criador, a síntese de todas as aspirações da alma, de todas as es¬peranças e ideais humanos.

Assessoria Educacional - Arte na Educação Infantil


Entendo a formação como um processo contínuo e permanente que exige do educador disponibilidade para a aprendizagem. Hoje as funções atribuídas ao professor apontam uma nova cultura profissional que se amplia, entre outros fins:
-participar no projeto educacional da escola;
-desenvolver aspectos éticos, estéticos e de convívio social;
-conceber, realizar, analisar e avaliar situações didáticas mediando o processo de conhecimento,
-criar situações de aprendizagem para todos os alunos.
Para atender a estes desafios propostos às novas funções do professor , se faz necessária uma interlocução na sua atuação, inclusive e não menos importante dentro da área de Artes.
Desde os primórdios da civilização, a arte está presente na vida do homem. As pinturas rupestres encontradas nas cavernas, demonstraram que o homem primitivo já se preocupava em representar, através do desenho, as suas crenças, necessidades e desejos.
Assim, a Arte enquanto "linguagem", produto da relação homem&mundo, se faz presente desde as primeiras manifestações gráficas de que se têm conhecimento.
Talvez como prova da existência de um inconsciente coletivo, ou como simples confirmação das necessidades exclusivamente humanas, as crianças desde muito cedo fazem desenhos, rabiscam papéis e paredes, utilizam-se de cores, sentem-se atraídas pelos desenhos de livros e revistas. É possível e necessário fazer interferências produtivas em seus processos de criação. Mas, como fazer? Como oferecer recursos sem ferir a criatividade individual?
Considerando esta concepção, ofereço um trabalho de Assessoria em Arte-educação que visa capacitar e qualificar profissionais da Educação Infantil para a realização de um trabalho de ensino de Artes Visuais atual e consciente , respaldado pelas mais novas linhas de pensamento da área e pelo que trata o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Esta é uma proposta que aborda o ensino de arte como um diálogo entre teoria e prática cujo objetivo é “construir um olhar” a partir da experiência de ver, observar, sentir, fazer, expressar e refletir a arte como objeto de estudo propiciando uma relação mais consciente do ser humano no mundo e para o mundo, contribuindo para a formação de indivíduos mais críticos e criativos que um dia, no exercício do seu papel de cidadão, atuarão na transformação da sociedade.
A abordagem utiliza os procedimentos da semiótica e respeita o processo de construção do conhecimento, desde o conhecimento prévio do aluno até a elaboração de hipóteses sobre o objeto estudado e sua relação com o mundo.
Os cursos estão previstos para serem ministrados nos formatos:
Longo (30horas)
Breve (15 horas)
Oficina Temática (3 horas)
 
O acompanhamento de assessoria se estende em módulos semestrais com encontros semanais de 2 horas, que se dividem em:
Estudos e discussão teórica;
Oficinas práticas e vivências;
Supervisão da prática de sala de aula e de registros do professor;
Momentos de avaliação diagnóstica e acompanhamento de resultados da aprendizagem.

Saliento que podemos organizar outro projeto de formação de acordo com a necessidade específica de cada escola.


Márcia Golz
 

Educar pelo exemplo




A relação professor-aluno deve ser refletida constantemente. Ela se dá o tempo todo, seja em sala de aula, nos intervalos, no recreio ou em eventos extraclasse. Enfim, ela se dá na vida. Essa inter-relação deve ser o fio condutor para que haja uma verdadeira aprendizagem por parte dos alunos. Recentemente, tive a rica oportunidade de assistir ao filme Clube do imperador, que, por sinal, foi indicado por meu enteado, um jovem de 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio numa instituição particular. Como todo jovem, ele é um grande questionador do verdadeiro sentido da escola em sua vida. O filme é provocativo para os educadores e nos remete ao verdadeiro papel desse profissional na vida dos alunos. Ele nos faz refletir se nossa postura é coerente e ética perante os desafios diários de uma sala de aula e os apelos do mundo.
O enredo do filme se desenrola num colégio bem-conceituado e tradicional, que é freqüentado por jovens de classe alta. O personagem principal do filme é um professor de história que, em suas aulas, discute temas como Roma e seus filósofos. Suas aulas são verdadeiramente apaixonantes, o que provoca e instiga seus alunos a pesquisarem e estudar o assunto. Durante o filme, bateu-me um saudosismo da época em que me encontrava na sala de aula como professora. Primeiro, pelo brilho nos olhos que eu tinha (que, aliás, todo verdadeiro educador tem), brilho que é reconhecido de longe e sempre vem acompanhado de muito amor, esperança e um grande desejo de ensinar, de provocar e de desestabilizar essa geração do "tô nem aí", do descartável e do ter pelo ter.
Quando um filme desses é indicado por um jovem estudante desacreditado de sua vida escolar (lembrando que esse jovem sabe que sou educadora e convivo parte do meu dia e da minha vida com educadores), é momento de parar e perguntar: "Que mensagem esse jovem está nos passando ao indicar este filme? Que professor é esse que despertou sua admiração (mesmo sendo num filme)?" Lembrando sempre que é essa geração que mostra não estar nem aí. A relação professor-aluno deve ir além de simplesmente discutir a educação enquanto currículo. O momento é de dar novo significado à educação pelo lado do sentido, do interesse, da coerência, do ser modelo de autoridade, do ser referência. É momento de discutir a educação do ser, a educação da coerência. O currículo deve ser repensado e suas estratégias educacionais também. É preciso mudar o olhar! É certo que não poderemos mudar a direção do vento, mas podemos alterar a posição das velas.
O que ocorre é que nós, educadores, sempre estamos atribuindo aos outros a responsabilidade que deve ser nossa: a de educar pelo exemplo. Lamento e conformismo não devem ser características de um educador. A época é de mudanças. A realidade deve ser enfrentada. Como poderemos abraçar esta geração se ainda não acreditamos nela? Como diria John Kennedy, "o limite do homem é o limite de seus sonhos".

Jane Patricia Haddad –
Psicopedagoga clínica e
coordenadora pedagógica
do Instituto Coração de Jesus,
em Belo Horizonte
Estado de Minas, 25/10/2005 - Belo Horizonte MG

O que é um menino?


por Alan Beck

Entre a inocência da infância e a compostura da maturidade há uma deliciosa criatura chamada menino. Embora se apresentem em tamanhos, pesos e cores sortidos, todos os meninos têm o mesmo credo: aproveitar cada segundo de cada minuto de todas as horas de todos os dias e protestar ruidosamente – o barulho é sua única arma – quando seu último minuto é decretado e os adultos os empacotam e metem na cama.
Meninos são encontrados em todas as partes: em cima de, embaixo de, dentro, subindo em, balançando-se no, correndo em volta de, pulando para. As mães os adoram, as meninas os odeiam, irmãos e irmãs mais velhos os suportam, adultos os ignoram, o céu os protege. Um menino é a Verdade com rosto sujo, a Beleza com um corte no dedo, a Sabedoria com um chiclete no cabelo, a Esperança do futuro com uma rã no bolso.
Quando você está ocupado, um menino é um conversa-fiada intrometido e amolante. Quando você deseja que ele cause boa impressão, seu cérebro vira geléia, ou ele se transforma em uma criatura sádica e selvagem empenhada em desmontar o mundo ao seu redor.
Um menino é um híbrido: o apetite de um cavalo, a disposição de um engole-espadas, a energia de uma bomba atômica de bolso, a curiosidade de um gato, os pulmões de um ditador, a imaginação de um Júlio Verne, o retraimento de uma violeta, o entusiasmo de um bombeiro – e quando se mete a fazer alguma coisa é como se tivesse cinco polegares em cada mão.
Gosta de sorvete, canivetes, serrotes, pedaços de pau, água ( no seu “habitat” natural ), bichos grandes, Papai, sábados, domingos e feriados, mangueiras de água. Não é partidário de catecismo, escolas, livros sem figuras, lições de música, colarinhos, barbeiros, meninas, agasalhos, adultos e “hora de dormir”. Ninguém se levanta tão cedo, nem chega tão tarde para o jantar. Ninguém se diverte tanto com árvores, cachorros e mosquitos. Ninguém mais é capaz de meter num único bolso um canivete enferrujado, uma maçã comida pela metade, um metro e meio de barbante, um saco de matéria plástica, duas pastilhas de chiclete, três notas de um cruzeiro, um estilingue e um fragmento de “substância ignorada”.
Um menino é uma criatura mágica: você pode mantê-lo fora do seu escritório, mas não pode expulsá-lo do seu coração. Pode pô-lo para fora da sala de visitas, mas não pode tirá-lo de sua mente. Queira ou não, ele é seu captor, seu carcereiro, seu dono, seu patrão – um cara sarapintado, um nanico, um mata-gatos, um pacote de encrencas. Mas quando à noite você chega em casa, com suas esperanças e seus sonhos reduzidos a pedaços, ele possui a magia de soldá-los em um segundo, pronunciando duas palavras somente: “ Alô papai!”...