É hora de entrar na escola!



Coração acelerado de ansiedade, cabeça cheia de devaneios, estômago apertado. É assim que muitas mães e pais descrevem o momento de ingresso de sua criança, na escola.

O momento deles, porque para os filhos, muitas vezes é muito mais fácil do que isso!

A idade certa de colocar filho na escola é outro tema de indagação constante. Eu costumo dizer, que ideal é a idade em que está bom para todos ou então, por volta de 3 anos, para quem pode esperar.
Os colegas de profissão que me compreendam, mas não faço apologia à entrada na escola antes dos 3 anos sem que seja uma necessidade de alguma das partes ou de ambas. O espaço familiar é muito importante na formação da personalidade de uma criança, na aquisição de valores e no desenvolvimento de confiança e segurança para dar os passos no mundo social.

Quando a necessidade de retomar o trabalho é inadiável, uma solução se faz indispensável para resolver o que é melhor para um bebê. Parentes que assumem o cuidado, uma babá de confiança, revezamento dos pais, nem sempre são uma possibilidade. Nesta hora, a escola surge como o espaço que poderá acolher, cuidar e estimular.

Crianças com idade entre 18 meses e 3 anos, podem se beneficiar do ingresso na escola, desde que esta seja uma opção para melhor atendê-la, considerando vários tipos de dificuldade que surgem nas famílias: uma mãe precisa de um tempo para si para reduzir o estresse cotidiano e evitar explosões de irritabilidade, uma criança fica muito só e desestimulada, falta de habilidade dos pais para gerar estímulos, os pais precisam trabalhar fora, etc.

Muitas pessoas sentir-se-ão felizes e resolvidas no papel de mães e pais, outras nem tanto. Muitas vezes é preciso sim uma ajuda externa, dividir os cuidados com outra fonte para que essa relação cresça saudável para todos os envolvidos.

Mães ideais podem ter toda a disponibilidade, possibilidade e alegria para cuidar de seus filhos até a idade de socializar-se, mas o mundo não é um ideal, não é mesmo? Há muitas formas de exercer a maternidade com qualidade, inclusive com o apoio da escola se for o caso.

Após 3 anos, eu considero muito importante o ingresso no ambiente escolar para que a criança tenha contato com pessoas do coletivo, vivencie situações mediadas por pessoas fora de seu universo individual e adentre um delicioso campo de oralidade rico em encantos e experiências em conjunto.

A criança busca a conexão com o outro e com o mundo, toda a sua expressividade  é posta em favor deste propósito, seja ela ampla ou restrita, cheia de recursos ou limitada. Sim, porque crianças especiais são tão necessitadas da escola quanto as crianças de padrão neurotípico. E isso não se chama socialização?

Uma boa educação infantil, garante o traspasse da criança pela música, pela arte, pela brincadeira, pelo desenho, pela dança, pela expressão do corpo, pela exploração de materiais, pela poesia, pela fantasia, pelas histórias... pelo bom e pelo belo. Todo este aparato permite que ela se modifique e transforme as relações com o mundo de forma lúdica, agradável e salutar.

As crianças também experimentarão uma nova referência, a pessoa do professor. O indivíduo que media situações, que intervém se for preciso, que dá carinho, desafia, estimula. Uma relação que é fundamental nesse trajeto, que se inicia devagar e cresce junto, formando vínculos e parceria.

As famílias precisam ter uma postura quase “investigativa” quando vão conhecer uma escola. É importante perguntar, escutar e exigir uma postura dos educadores com clareza e comprometimento, sem respostas prontas e chavões educacionais. O discurso que vem da escola precisa ser afetivo, seguro de seus propósitos, compreensível aos pais e coerente com o que se vê em volta.
Escolas devem oferecer espaços para brincar, correr, ficar juntinho, tomar sol, partilhar experiências com crianças de várias idades.

A vida de uma família inteira se transforma quando um pequeno ser entra na escola. É preciso lidar com isso sem culpas, sem receios e em paz. O mundo de hoje muitas vezes exige que esta seja uma escolha feita mais cedo do que se desejaria. É da vida e pode ser uma opção feliz.
Desconhecer os suportes de educação não é desculpa para delegar para a escola toda a responsabilidade desta escolha. É preciso acompanhar de perto, buscar informações, ser presente, questionar, esclarecer. É uma parceria que acontecerá por muitos anos da vida da criança e da família.
Em breve falaremos também de como se deve fazer esta escolha, o que é importante observar, perguntar e conversar ao selecionar uma escola.
Bons ventos!

Cultura da intolerância, uma resposta para a educação permissiva?

Vou burlar minha própria proposta e inserir aqui um texto que não se insere na continuidade dos estudos sobre a crianças que propus anteriormente. Vem de urgência, mas toca de todo modo na questão da responsabilidade educacional das famílias, da escola e da sociedade.
Minha funcionária doméstica chegou triste. O filho de uma prima querida fora assassinado friamente, aos 18 anos, por um conhecido intolerante. Seu algoz, queria as atenções e os mimos da namorada da vítima, como não conseguiu, bateu na moça. Defendendo a honra da amada, o jovem foi tirar satisfações com o outro e resolveu nos sopapos. Em defesa do orgulho ferido, da frustração de não ter o que queria, o outro se apossou de uma arma e o matou com um tiro na cabeça, na frente da casa da moça, na presença da mesma.
Por que? Para que? O que ganhou com isso?
Esse fato triste e lamentável, repetido em tantas comunidades, famílias, cidades que enche a TV de notícias repetitivas, me pede para  pensar.
Porque os jovens não tem mais tolerância com a frustração? Porque ser privado de contentar um desejo desperta o pior destas pessoas? Onde aconteceu a falha?
Não sei todas as respostas, mas tenho hipóteses.
A sociedade atual muitas vezes propõe a contramão da educação autoritária que tínhamos antigamente. Torna-se permissiva, interfere pouco, cede demais. A família tem exigências que a retiram do tempo de educar, de estar junto, de transmitir valores. A escola assumi mal e perdida, parte deste processo. Junto a isso um estímulo constante da mídia ao consumo, além do desfile de desgraças e tragédias televisivas que "ensina" a criminalidade pela repetição. E tanta outra coisa que não dá para refletir aqui, assim, de supetão.
Mas tem um fato que me importa nisso tudo: interferir, ser exemplo positivo, explicar mil vezes, repreender com firmeza, remar contra a maré, dá trabalho e implica em responsabilidade assumida.
Com a vida cheia de atribulações ou também com preguiça de assumir as responsabilidades, é mais fácil ceder, não é?
Vejo-me nadando numa cultura social do  fácil e conveniente: comida pronta, fast food, control C control V, "tem o filme, não preciso ler o livro", lava rápido, estacionar na vaga reservada ao idoso, entrega em casa, "o médico é quem sabe", "o Dr advogado mandou", "pago a escola para ela resolver".. enfim, muitas formas. Supostamente são estratégias práticas de burlar as dificuldades da vida, sanar pressas, resolver as coisas com menos investimento de tempo ou menos compromisso com os resultados, afinal "alguém" assume.
Com a educação de crianças e jovens isso tem acontecido em escala alarmante. Delega-se à babá, à escola, ao Sistema, à seja lá quem for, o poder e a responsabilidade de transmitir valores, conhecimento, moral, regras e omite-se a participação integral de quem deveria estar à frente disso: a família, em todas as suas formas, construções e desconstruções.
Crescendo em ambientes sem mediação de nenhuma ordem,  pessoas tornam-se jovens sem referências, sem olhar para o outro, sem construir valores de convivência que reconheçam o sentido de comunidade, partilha, fraternidade..
Os valores que introjetamos na infância e na adolescência são base das condutas que adotaremos na vida. Se as referências são indesejáveis, nulas ou caóticas, assim serão os valores e as condutas.
Ter atitudes ajustadas ou desajustadas, depende  de muito mais do que seguir regras ou discordar delas, depende do que se introjetou e de que código de ética o grupo tem, para começar.
Deveres tem que ser mais importantes do que frustrações. O senso de responsabilidade com o grupo deve ser considerado e não não cumprir com este código deveria gerar culpa, ou estaremos nas raias da psicopatia.
Mas o que estamos ensinando, como sociedade, quando toleramos condutas indesejáveis numa margem cada vez mais extensa? Pequenos desvios a valores básicos são esperados para todo mundo, vez ou outra, mas matar por motivo fútil? Beber, dirigir e matar? Agredir a socos por intolerância?... vai pra onde?
A sociedade pode até tolerar certos erros, mas deve impor limites e consequências claros. A começar em casa, na família, no lugar de origem.
Além de olhos arregalados, caras e bocas, o que está e fato se fazendo em casa e nas escolas para mudar este tão trágico quadro social?
E a escola dos seus filhos, olha para estas questões?
Fecho sem fechar... este tema não está no fim, mas no começo de uma importante discussão.
Bons ventos!


Criança... ser humano em evolução

Hoje darei um primeiro passo em uma trajetória de muitos textos, falando especificamento destes seres tão incríveis quanto inspiradores, os seres humanos na infância.
Criança, assim os nomeamos.
Muitas já foram as maneiras que o mundo as nomeou e concebeu: mini adultos, pessoas pequenas ainda sem capacidades próprias, inocência,  pessoas que precisam ir à escola para serem "de verdade" (Carlo Collodi - Pinóquio 1883) e muitas outras. Cada uma a seu modo deu sua contribuição para que se chegasse até os dias de hoje.
Mas, que infância é essa a de hoje e que tipo de educação ela necessita?
Penso num olhar, não muito distante no tempo, onde  as crianças ou eram plenas de direitos (perpetuam-se em muitos ainda hoje esses olhos) ou pequenos adultos e deveriam corresponder a tal ( e haja discursos autoritários). Quanta ansiedade ignorante do mundo! - diria a Profa. Margarida Estrella, já nos anos 70.
Custou para nós encontrarmos meios de nos comunicarmos com a criança com base em seus interesses evolutivos e não com nossas imposições. Todo mundo viveu a cena de um adulto dizendo algo semelhante a "neném que nana" ou outros tat-bi-tats da vida. Falar articuladamente, claro e preciso  de forma simples, que ensina de modo adequado a articulação das palavras, foi tão negado a muita gente, por ter tamanho pequeno. Caímos no simplismo e perdemos a oportunidade de ser simples.
Ser simples implica em manter o conteúdo,de modo acessível,  dentro do nível de compreensão do outro. Requer humildade.
Essas condutas equivocadas, desviam a criança do seu processo de aprendizagem, por vias tortas que deleitam só o adulto interessado em "gracinhas" que o divertem. Considero um desrespeito à infância. Mas muitas pessoas vão condenar meu pensamento, de novo de forma simplista, com a afirmação "mas é tão bonitinho.. o que teria demais?".
Também para muitos, é mais conveniente dizer como se faz, fazer mesmo, do que sugerir que a criança chegue a conclusões, alcançando assim seu propósito. Isso daria muito trabalho.
Nas aulas de artes eu via muito esse efeito: um modelo para copiar é mais fácil do que conceber o desenho e realizá-lo. Estereótipos vazios, folhas devidamente xerocadas para colorir "do jeito certo". Na mesma contra-mão, temos as famílias que exigem uma valorização excessiva de desempenho e inflam-se porque "meu filho está adiantado" e outros chavões deseducantes nossos conhecidos.
Como obcecados por nutrição, muitas vezes transformamos a vida da criança numa chatice sem fim, dando-lhe tudo, sem dar espaço para que sua natureza se manifeste. Tolhemos a criatividade, a curiosidade e o prazer de descobrir e algumas vezes, até de desejar.
Assim, deixamos de aceitar que a criança se transforma a cada dia, globalmente. Quando acontece uma discrepância entre o crescimento e a transformação de forma global, aparecem as problemáticas, ficam visíveis os aspectos onde há deficiência nesta transformação. Assim se identificam problemas, limitações, necessidades especiais, falta de equilíbrio entre os aspectos físicos, emocionais e mentais. Daí que sabiamente, disse Rousseau: "é preciso deixar amadurecer a infância na criança".
Hoje sabemos que instruir não é educar.
Educação aborda o tratamento que deve-se dar à criatura humana desde sua germinação, até os últimos momentos de vida. Viver é um processo de educação.
A escola passa a ser o espaço onde além de instrução, a criança desenvolve seu caráter, sua forma de estar no mundo, seu olhar sobre si mesmo e seus propósitos de estar na vida e lidar com este mundo onde se encontra. Um espaço que precisa despir-se de suas estáveis armaduras catedráticas e mergulhar no mundo infantil e compreender como ele funciona, permitir a experiência, permitir aprender junto.
Daí ser tão delicado o processo de escolher a escola dos filhos. Mas isso fica para o próximo texto!
Bons ventos!!
Márcia


Síndrome do Alcoolismo Fetal



Este texto tem dez anos de publicado, mas poderia ter sido ontem...
Só para começar a levantar a questão!

Síndrome do Alcoolismo Fetal
A tragédia que pode ser evitada
George Steinmetz
Quando Malcolm nasceu, meu coração se partiu”, ela disse.
“E a culpa, meu Deus, o sentimento de culpa...
Quando descobriu que estava grávida, Ellen O’Donovan estava perdendo a luta contra o alcoolismo. Meses mais tarde, seu filho nascia com a síndrome do alcoolismo fetal.

Encontrei-os em Dublin, durante minha missão fotográfica. Ela e seu filho Malcolm, de 3 anos, vivem numa pequena cidade na costa da Irlanda. Tinham viajado de ônibus durante 6 horas para consultar o médico, um especialista que trata da visão muito deficiente de Malcolm — uma das inúmeras deficiências relacionadas ao álcool.

criança co SAFA síndrome do alcoolismo fetal, SAF, termo usado para descrever o dano sofrido por alguns fetos quando a mãe bebe durante a gravidez, foi identificada pela primeira vez por volta de 1970. Dependendo da fase da gravidez e da quantidade ingerida, o álcool na corrente sangüínea materna pode ter efeito tóxico sobre o feto em formação. O defeito varia de leve a grave, causando gestos desajeitados, problemas de comportamento, falta de crescimento, rosto desfigurado, retardo mental.

O médico havia dito a Ellen que um jornalista americano queria fotografá-la com o filho. Ela concordou, na esperança de que outras mulheres aprendessem com o trágico erro que cometera. Entretanto, quando comecei a preparar a máquina, hesitou. Respirou profundamente e começou a falar.

Naquela época, eu tomava uma garrafa de vodka por dia. Estava tão fora da realidade que nem sabia que estava grávida de dois meses. Assim que descobri, parei de beber, mas o dano já estava feito”.

Os O’Donovan não estão sozinhos. A cada ano, nascem milhares de bebês com defeitos relacionados ao álcool e a síndrome do alcoolismo fetal é uma das principais causas desconhecidas de retardo mental.

Malcolm nasceu com tamanho abaixo do normal, seus rins e o estômago não funcionam bem. Teve que ser alimentado por sonda até os 14 meses. Sua cabeça é menor do que o normal, ele apresenta anomalias faciais típicas da criança que sofre de SAF: olhos pequenos e afastados, lábio superior fino, nariz pequeno e arrebitado, queixo retraído. Nasceu com defeito nas córneas e pálpebras caídas. Mais tarde, por meio de uma cirurgia, obteve visão limitada no olho direito.

A síndrome do alcoolismo fetal é irreversível e Ellen está dedicando sua vida a cuidar do filho. “Felizmente, ele não parece retardado”, diz ela. “Está até começando a falar um pouco. Todos os dias, trabalho com ele, ajudando-o a aprender a fazer aquilo que as crianças normais fazem”.

Fiquei comovido ao ver como ela o abraçava e o confortava quando ele começava a chorar. Ela confessou-me, emocionada. “Se este garotinho não tivesse nascido, eu teria morrido de tanto beber.” Há 3 anos e meio ela não bebe uma gota sequer.

Mas não vai ser fácil. Desempregada e vivendo com a mãe, Ellen planeja todos os seus dias em torno de Malcolm e das freqüentes vindas a Dublin para consultar vários médicos. Ofereci-me para pagar o ônibus, mas ela recusou: “Só diga às mulheres por aí, se querem ter filhos, fiquem longe da bebida”. Deu um beijo no filho e partiram.

Eu os vi em todos os países que visitei — alguns com o corpinho retorcido, outros com o rosto tragicamente desfigurado. Alguns estavam agitados, enquanto outros pareciam normais. Cada encontro me deixava abalado, pois pouca coisa nesse mundo é tão triste quanto uma criança que sofre os efeitos da síndrome do alcoolismo fetal.

Ann Streissguth, da Universidade de Washington, especialista no comportamento relacionado à síndrome, lamenta: “É tão triste ver que muitas crianças passam pela vida sem que seus males sejam detectados. É preciso ter muita experiência para reconhecer a síndrome, mesmo nos gravemente retardados. Muitas vezes, julgam mal a criança com retardo leve, pois costuma ser extrovertida e faladora. Ninguém imagina que seu sistema nervoso esteja afetado”. À medida que a criança cresce, esses aspectos positivos são freqüentemente abalados por problemas relacionados ao álcool — memória fraca, falta de concentração, raciocínio fraco e incapacidade de aprender com a experiência. Frustradas, algumas vítimas abandonam a escola ou terminam como marginais.

O efeito da síndrome do alcoolismo fetal aparece de modo diferente em cada criança. Na Rússia, encontrei um adolescente que tentava constantemente atingir seus amigos com uma tesoura. Na Suécia, conheci uma garotinha tão doce e tão linda que pensei estar fotografando um anjo.

Pouco se conhece sobre a quantidade de álcool que causa a síndrome. A genética também pode ser um fator. Mesmo no caso de gêmeos, um pode ter sintomas graves enquanto o outro quase não é afetado. Nem todas as mães que bebem têm um bebê com a síndrome. Alguns médicos acham que qualquer quantidade de álcool é um risco para o bebê e quase todos concordam que uma bebedeira é muito perigosa — principalmente durante os primeiros três meses, quando há poucos sinais de gravidez. Como Ellen lamentou, “eu nem sabia que estava grávida. Esta é a tragédia”.
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Fonte: Newsweek, 26.11.90; The Lancet, 12.01.91; The Economist, 23.02.91

E então, ajudo a fazer a lição de casa?


Por Márcia Golz
Minha resposta é SIM!
 Quando ingressa no Fundamental I, a criança ainda tem seu pezinho na rotina da educação infantil (pelo menos deveria ter!) e tudo se torna novo. Muitas vezes até o mobiliário, os tipos de equipamentos e materiais usados em sala, a presença de mais de uma professora ou professor, trazem uma visão diferente de escola, comparada à educação infantil.
É comum as crianças mostrarem dificuldade para compreender o que significa ter uma lição para fazer em casa, uma vez que ela já fez outras na escola. Todo o preparo de ambiente, todos os procedimentos de organização que ela vivencia na escola, ainda não estão incutidos e o olhar de um adulto para ajudar, torna-se importante.
Mas ajudar como?
Acredito que oferecer um espaço adequado, garantir que a criança tenha à disposição o que é necessário, é um bom começo. Fazer lição na mesa de refeição, sentado todo torto diante da televisão ou no meio da brincadeira dos irmãos é inadequado.  O ambiente precisa permitir a concentração.
Cobrar capricho na letra, limpeza, apagar sem borrões e incentivar a criança a pensar e buscar resoluções das propostas, também  é muito importante. Não é preciso preocupar-se em “ensinar conteúdos e conceitos”, este é o papel da escola. Seja orientador na organização.
Um dia destes, um amigo que coordena a área de línguas de uma escola de elite de São Paulo, relatou-me a dificuldade imensa que seus professores tem com a organização dos alunos. Segundo ele, crianças que tem tudo à mão, por pais e babás, não aprenderam procedimentos simples como retirar da mesa o material que não vão precisar, ter lápis e borracha à mão e em condições de uso, ter mãos limpas para manipular os livros e cadernos. A escola precisa ensinar cada detalhe, porque em casa não há nenhuma orientação. Que pena.
O papel do familiar adulto no apoio à lição de casa, deve ampliar o repertório de recursos da criança e não extirpá-lo. Somos facilitadores para que a criança adquira autonomia e com o tempo, seja tranqüilo para ela realizar suas tarefas sem precisar de interferências, apenas supervisionada por um olhar disponível.
 Ajude a criança a buscar recursos e instrumentos de pesquisa que ampliem seu aprendizado, que tragam mais dados e conteúdos. Isso pode vir de um passeio pelos livros, pela web, pela história da família ou por ambientes culturais fora da escola. Depende do seu olhar atento e da necessidade do momento. Pense junto. Não pense pela criança.
Quem tem ajuda, aprende que pode contar com os outros. Fazer lição de casa pode ser então um momento de aprender a lidar com idéias dos outros, com o coletivo, com construção em equipe. O mundo tem uma imensa necessidade de afastar-se do olhar individualista, fechado em si. É preciso viver situações onde o outro é parceiro, não é concorrente. Isso ensina a dar e receber apoio.
Mas preste atenção para não tomar para si a tarefa e acabar por fazê-la no lugar da criança. Ajude a buscar, não dê pronto. Seja um incentivador e uma referência.
O trabalho de lição de casa, assim como o estudo envolvem a curiosidade, delícias de aprender, a responsabilidade, escolhas, inseguranças, indecisões, medos, preguiça. É preciso uma mão amiga ali, ajudando a lidar com tudo isso!
Bons Ventos!

Socorro, meu filho precisa de limites!


O que eu espero desta criança?
Cada pai e mãe, pode fazer esta pergunta para si mesmo, facilitando assim o caminho de educar.
Algumas mães  me procuram para conversar a respeito de limites, de birras e de agressividade infantil. Relatam histórias de tapas, arranhões, cuspidas, mordidas, empurrões, socos e pontapés. Perdidas diante das cenas nos supermercados, na casa de parentes e às vezes na escola, sentem-se angustiadas e tem medo que seu filho seja uma “criança problema”.
A questão em alta hoje é “Como colocar limites?”
Uma coisa em comum que observei em diferentes relatos, é a falta de clareza do que esperam de suas crianças. Todas as querem bem educadas, mas não sabem definir de pronto o que isso significa, quando começo a problematizar sua narrativa dos fatos.
No espaço escolar, adquiri a experiência de definir metas e estratégias para alcançá-las. Esta atitude fez com que eu percebesse que era preciso saber o que eu desejava dos alunos e o quanto eles estavam aptos a atingir meus objetivos. Assim, a pergunta lá em cima neste texto, era realmente o primeiro passo antes de qualquer  avanço.
Quero a criança  idealizada de novela, “educada” que pede tudo com gentileza, se aquieta na conversa entre os adultos, senta direito e espera calmamente  e sorrindo,  que lhe chegue o lanche, o livro, a pessoa para buscar ou a hora de sair para o recreio?
Quero uma criança ativa, questionadora, ousada, com auto estima, alegre, antenada?
Ao perguntar, somos obrigados a definir nossa intenção, a observar nossas expectativas e equacionar os valores dos quais nos cercamos, no momento em que esperamos alguma coisa do outro.  Abandonamos o ideal  para olhar o real.
Que família somos? Que queremos oferecer ao mundo? Como queremos estabelecer esta relação?
Feito isso, podemos pensar nas formas de atingir nosso objetivo.
O adulto é a autoridade desta relação e precisa  assumir seu papel. Autoridade não se constrói no medo, mas na firmeza, na paciência, no respeito e com muita insistência. Vejo crianças tomando as decisões no lugar dos adultos e administrando poderes que não estão preparadas para lidar. Decidem se a família comerá fora ou não, se viajam para a praia ou para a casa da tia, se farão lição de casa ou não, se a mãe pode sair,  escolhem castigos e até se faltarão na escola.
Criança não toma este tipo de decisão, não lhe cabe. É a pessoa responsável por ela que deve fazer isso, ou pesa sobre a criança uma responsabilidade superior à sua capacidade de carregar. O adulto deixa de ser referência  e a criança vira um barco à deriva.
Falar “sim” e falar “não”, são demonstrações de afeto quando significam limite. Negar alguma coisa é dar sentido a um valor, dar concretude. O não pode ser mais acolhedor que o sim. Educa, constrói uma linha delimitadora de ações, de poderes e de necessidades. Abraçar o “não”  dói menos do que não saber nunca o que abraçar por ter opção demais, por exemplo.
Seja em casa ou na escola, a ausência do não, o ceder para a birra, o escândalo, a irritabilidade sem fim, leva ao terreno pantanoso da desautoridade.  Por falta de clareza nas colocações, os adultos promovem,com sua falta de coerência, exatamente o contrário do que pretendem e vêem crescer sob seus narizes, mais e mais transgressões.  Exaustos e sem rumo, muitos acabam partindo para os gritos, tapas e empurrões, exatamente o que condenavam na criança, ainda a pouco.
Na escola  é  mais comum ver crianças que batem, que resolvem seus conflitos com tapas, empurrões, mordidas  e pontapés. Observa-se crianças aos gritos na choradeira, tentam conseguir que seus desejos sejam atendidos. Aí entram os tais dos limites. Sem berros, firmes, inegociáveis, diretos. A transgressão anda no encalço da regra. Não é o caso de esperar diferente, mas de preparar-se para isso. O educador preparado, interfere diretamente  e faz valer sua autoridade com firmeza e afeto.
Palavras francas, diretas, numa linguagem compreensível para a criança, na  hora, sem adiamentos, sem ameaças.  É muito mais tranqüilo para ela, saber exatamente o que é permitido e o que não é permitido. Evita ansiedade, estabelece os critérios das relações, define as margens onde ela pode pisar.
Crescer já é tão complicado, imagine se você não sabe para onde?
Uma dica: insista, repita, repita e repita. Ninguém aprende de uma vez e criança esquece, testa, experimenta. Uma hora a atitude se transforma,  pronto. Aí vem outro desafio.
Chorar, espernear, gritar que odeia, faz parte do jogo. Aí entra a paciência e a maturidade do adulto. A reação dela não é pessoal à você, mas ao fato de lidar com a frustração. É extremamente educativo frustrar-se e lidar com a frustração. Deixe o medo e a culpa fora do jogo. É seu dever educar, mesmo na parte menos saborosa da coisa.
A repetição da atitude limitadora é a chave. Muito adultos reclamam que não conseguem mudar as atitudes dos filhos, tentam muitas coisas, seguem mil conselhos e não funciona. Diversifique menos e repita mais.
Criança aprende um tiquinho a mais com cada repetição. Repare que elas assistem muitas e muitas vezes o mesmo filme, como se fosse sempre novidade. É porque sempre percebem mais uma coisa que antes passou sem ser vista, apreendem um detalhe, dão significado a um ponto.
E é assim que todo mundo elabora as emoções e os conhecimentos e vai se construindo e se achando no mundo.
Conheça seu filho. Dê a ele regras claras e conseqüências claras e coerentes para casos de  descumprimento. Se ele reincide , reproduza a regra e a conseqüência. Eles só insistem porque estão levando em conta o que acontece, precisam checar, precisam testar a validade. 
Bons Ventos!

Um pouco das recorrentes desescolhas do feminino



Tenho conversado com muitas amigas insatisfeitas com seus casamentos, ultimamente.
Uma coisa que chama a atenção, é que nossas escolhas de relacionamento, muitas vezes não são acompanhadas de análises reais da vida. Casamos porque nos apaixonamos, casamos porque temos uma fantasia de felicidade e esperamos alcançá-la, casamos com o que queremos ver do outro. 
No dia a dia, a maioria se de depara com aspectos que julga não estarem de acordo com o que pretendiam e aí começa a festa da culpa.
O que falta? 
Penso eu, que seja olharmos para a escolha e ver o que realmente fizemos, o que levamos em consideração da realidade do outro, o que a gente simplesmente não achou importante, o que a gente achou que vinha automático, e o que a gente tapou o sol com a peneira.
Hoje, vendo dezenas de amigas com relacionamentos repletos de insatisfação, observo que lá atrás, suas escolhas foram feitas com muitos pontos cegos. Poucas mulheres olham de verdade um homem antes de assumir suas relações. Tem a ilusão histórica de que com jeito podem mudá-los, podem fazer sair como querem e acabam nas armadilhas da submissão, sem se dar conta.
Não é com uma ou outra especial, é com o feminino todo.
Mas cada ser humano responde por si, por mais escolhas coletivas que faça. casal ou não, você é indivíduo. Costumo dizer que o casamento é uma instituição incrível, o problema está nas pessoas que a abraçam.
Ninguém acha importante discutir como será a administração de casa, compras, dinheiro, filhos, viagens, pulos na cerca, dívidas, saídas sem o parceiro, doenças, tragédias e toda sorte de coisas, antes de dizer sim. Parece que esperam que seja um conto de fadas e que nunca passem por nada, em nome do amor romântico perfeito.  
Alô humanidade, não funciona!
Olhar para tudo, com o bonde andando, é bem difícil. 
Temos muitas emoções envolvidas, jogos de culpa, jogos de manipulação, filhos, medo das dificuldades de sobreviver sozinhas. Sentimo-nos em risco, então recuamos de nossa indignação e nos conformamos com a insatisfação em nome.. de quê?? 
Percebe que é de nada?? Porque não podemos questionar, reavaliar, exigir ser ouvidas e aceitas? O poder do outro, do dinheito, do que masculino, é maior??
Os monstros moram onde os colocamos.
Mas toda a escolha envolve riscos. Não dá para mergulhar no rio e sair seca, como diz minha amiga Pauleca.
Decidir que se  vai questionar uma relação em andamento, implica pelo menos no risco de:
1 -Ter êxito, conseguir reformular acordos de ambos os lados e adquirir uma performance satisfatória da relação.
2 -Ter êxito parcial e precisar decidir entre o que vale a pena e o que não, assumindo a escolha
3 - Não ter êxito algum, descobrir que a relação não serve mais,  diante de seu crescimento emocional e precisar romper laços difíceis e dolorosos ou pagar o preço da infelicidade vivendo sob o mesmo teto até que a casa caia, assumindo isso.
A questão é deixar a imaturidade para trás, fincar os pés no solo e assumir os passos que dá, com ou sem pegadas que gostaria de apagar. 
Essa é você, essa é sua escolha, essa é a pessoa que você deve amar em primeiro lugar. Todo o resto se ajeita, rindo ou chorando.
Como nos momentos de gestação que colocam a mulher para gestar a si mesma, para refletir sobre si. Deixar o papel de "filha" para ser mâe, deixar o papel de "queridinha" para ser dona de si. Tudo isso é trabalhoso mas é transformador e reconfortante, se a gente cresce nisso.
Conheço um número incalculável de mulheres que se posicionam como menininhas a vida inteira, a culpa de sua infelicidade é sempre do outro, não assumem escolhas, vivem das migalhas, vivem do que o outro deixa. Porque?? Ora, porque não olham e não decidem romper este laço patriarcal histórico- cultural! Vão de roldão na vida, ora à deriva, ora no rumo dos outros e bem de vez em quando, para onde querem ou pensam querer...
Coisas a pensar....
Bons Ventos!

Sorria


Envelheço todo dia para que a vida me prove que sou finita.
Engordo e emagreço para lembrar que somos todos capazes de gerenciar a nós mesmos, mas se deixarmos por conta do acaso, perdemos o controle.
Meus cabelos caem e me dizem que nada é eterno, por mais que se cuide disso.
Minhas rugas e marcas aparecem e dizem que vivo, que sinto, que penso e que isso se reflete em cada parte.
Mas os sorrisos, as alegrias, os momentos de feliz para sempre, as surpresas, estes me ensinam mais.
Ensinam que não importa de onde se vem e para onde se vai, importa o que faço do meu caminho.
Ensinam que meus amigos e as pessoas que eu amo, são os pilares que sustentam minha estrada, seja nas alturas, seja nas baixadas.
Então escolho sorrir. Mesmo com a geladeira quebrada, a planta destruída pelo gatinho e a terra espalhada no quintal. Mesmo com a dificuldade de arrumar uma ajudante, mesmo com saudade de trabalhar fora, mesmo que o meu almoço foi rejeitado pela criançada.
Porque neste momento, sou feliz. A vida prospera, o sol está lindo lá fora, contradizendo o inverno e hoje teremos bolo de cenoura no lanche.
Experimente, faz bem. Sorria

Seu filho é o ser humano que fará o mundo de amanhã


Todos nós desejamos um mundo melhor. Sociedade mais equilibrada, respeito à natureza e suas reservas, conduta digna, boas relações entre as pessoas e conforto. Quem desejaria o contrário?
Mas a maioria esquece que só há um meio de conquistar estas coisas, sem milagres, sem mágicas: agindo melhor.
Nosso filhos são a semente da sociedade de amanhã, assim como um dia, eu e você, fomos a semente do que é hoje. Se desejamos que suas vidas sejam pautadas em mais qualidade, menos corrupção, mais respeito, mais amor e mais ética, temos o compromisso de educá-los assim.
Criar filho é uma tarefa desafiadora, árdua em alguns momentos, extremamente prazerosa na maior parte do tempo.
Investir em exemplos do bem, cultura, educação formal de qualidade, ensinar boas maneiras, cortesia, demonstrações efetivas de afeto, tornam o ser humano melhor.
Invista algumas horas para mostrar a ele que pensar positivo faz bem, anima e o torna mais forte que a frustração momentânea.
Ensine-o a valorizar e falar sobre as coisas boas da vida, a saúde e a prosperidade. Não o amargue falando sempre de suas frustrações, sendo uma pessoa que reclama demais e se põe de vítima constantemente. O que você faz hoje, ele fará amanhã.
Elogie e fale de suas qualidades, conquistas e dons e estimule-o a fazer o mesmo pelos outros. Ensine-o a olhar o lado bom das coisas e a cultivar o otimismo. Quem planta elogios e reconhecimento, colhe.
Entusiasme-se com o sucesso dele nas pequenas e grandes tarefas. Mostre a ele que valorizar o outro é mais legal do que invejar suas conquistas. Perdoe e ensine a perdoar. Nada menos promissor do que o rancor e o ressentimento, almeje um futuro menos ruim em todas as horas do seu dia.
Sorria mais, fale sorrindo, coloque amor no coração sempre que a irritação se fizer presente. Suas palavras sairão menos agressivas e mais eficazes. Alegria cura o corpo e a alma.
Ensine-o a ter foco em seu próprio aprimoramento. Quem está focado em si não tem tempo para censurar e criticar a vida alheia. Evoluir é superar-se todos os dias, mesmo que em pequenas porções.
Seja determinado para educá-lo e ele será determinado na vida, diminuindo suas preocupações e cultivando a auto estima.
Mostre nobreza de caráter, não gaste tempo demais com semblante franzido. Todo mundo tem medo de careta.
Seja forte nas adversidades, transmita confiança na capacidade da vida de ser melhor, olhando para o futuro com esperanças positivas, idéias positivas, imagens positivas e atitudes positivas.
Seja feliz todo dia um pouco, assim será feliz sempre e ensinará que felicidade é um estado de espírito, não uma meta almejada. Dá para ser feliz para sempre comendo aquele bolo fofinho que deu certo e não murchou, ajudando aquela senhora gorducha a subir no ônibus, devolvendo a bola do vizinho que pulou seu muro, curtindo seu garotinho dormindo largado no sofá da sala, correndo até cair em gargalhadas, na grama do parque da sua cidade.
Seu filho é o ser humano que fará a sociedade de amanhã, invista nele.

Márcia Golz