É hora de entrar na escola!



Coração acelerado de ansiedade, cabeça cheia de devaneios, estômago apertado. É assim que muitas mães e pais descrevem o momento de ingresso de sua criança, na escola.

O momento deles, porque para os filhos, muitas vezes é muito mais fácil do que isso!

A idade certa de colocar filho na escola é outro tema de indagação constante. Eu costumo dizer, que ideal é a idade em que está bom para todos ou então, por volta de 3 anos, para quem pode esperar.
Os colegas de profissão que me compreendam, mas não faço apologia à entrada na escola antes dos 3 anos sem que seja uma necessidade de alguma das partes ou de ambas. O espaço familiar é muito importante na formação da personalidade de uma criança, na aquisição de valores e no desenvolvimento de confiança e segurança para dar os passos no mundo social.

Quando a necessidade de retomar o trabalho é inadiável, uma solução se faz indispensável para resolver o que é melhor para um bebê. Parentes que assumem o cuidado, uma babá de confiança, revezamento dos pais, nem sempre são uma possibilidade. Nesta hora, a escola surge como o espaço que poderá acolher, cuidar e estimular.

Crianças com idade entre 18 meses e 3 anos, podem se beneficiar do ingresso na escola, desde que esta seja uma opção para melhor atendê-la, considerando vários tipos de dificuldade que surgem nas famílias: uma mãe precisa de um tempo para si para reduzir o estresse cotidiano e evitar explosões de irritabilidade, uma criança fica muito só e desestimulada, falta de habilidade dos pais para gerar estímulos, os pais precisam trabalhar fora, etc.

Muitas pessoas sentir-se-ão felizes e resolvidas no papel de mães e pais, outras nem tanto. Muitas vezes é preciso sim uma ajuda externa, dividir os cuidados com outra fonte para que essa relação cresça saudável para todos os envolvidos.

Mães ideais podem ter toda a disponibilidade, possibilidade e alegria para cuidar de seus filhos até a idade de socializar-se, mas o mundo não é um ideal, não é mesmo? Há muitas formas de exercer a maternidade com qualidade, inclusive com o apoio da escola se for o caso.

Após 3 anos, eu considero muito importante o ingresso no ambiente escolar para que a criança tenha contato com pessoas do coletivo, vivencie situações mediadas por pessoas fora de seu universo individual e adentre um delicioso campo de oralidade rico em encantos e experiências em conjunto.

A criança busca a conexão com o outro e com o mundo, toda a sua expressividade  é posta em favor deste propósito, seja ela ampla ou restrita, cheia de recursos ou limitada. Sim, porque crianças especiais são tão necessitadas da escola quanto as crianças de padrão neurotípico. E isso não se chama socialização?

Uma boa educação infantil, garante o traspasse da criança pela música, pela arte, pela brincadeira, pelo desenho, pela dança, pela expressão do corpo, pela exploração de materiais, pela poesia, pela fantasia, pelas histórias... pelo bom e pelo belo. Todo este aparato permite que ela se modifique e transforme as relações com o mundo de forma lúdica, agradável e salutar.

As crianças também experimentarão uma nova referência, a pessoa do professor. O indivíduo que media situações, que intervém se for preciso, que dá carinho, desafia, estimula. Uma relação que é fundamental nesse trajeto, que se inicia devagar e cresce junto, formando vínculos e parceria.

As famílias precisam ter uma postura quase “investigativa” quando vão conhecer uma escola. É importante perguntar, escutar e exigir uma postura dos educadores com clareza e comprometimento, sem respostas prontas e chavões educacionais. O discurso que vem da escola precisa ser afetivo, seguro de seus propósitos, compreensível aos pais e coerente com o que se vê em volta.
Escolas devem oferecer espaços para brincar, correr, ficar juntinho, tomar sol, partilhar experiências com crianças de várias idades.

A vida de uma família inteira se transforma quando um pequeno ser entra na escola. É preciso lidar com isso sem culpas, sem receios e em paz. O mundo de hoje muitas vezes exige que esta seja uma escolha feita mais cedo do que se desejaria. É da vida e pode ser uma opção feliz.
Desconhecer os suportes de educação não é desculpa para delegar para a escola toda a responsabilidade desta escolha. É preciso acompanhar de perto, buscar informações, ser presente, questionar, esclarecer. É uma parceria que acontecerá por muitos anos da vida da criança e da família.
Em breve falaremos também de como se deve fazer esta escolha, o que é importante observar, perguntar e conversar ao selecionar uma escola.
Bons ventos!

Cultura da intolerância, uma resposta para a educação permissiva?

Vou burlar minha própria proposta e inserir aqui um texto que não se insere na continuidade dos estudos sobre a crianças que propus anteriormente. Vem de urgência, mas toca de todo modo na questão da responsabilidade educacional das famílias, da escola e da sociedade.
Minha funcionária doméstica chegou triste. O filho de uma prima querida fora assassinado friamente, aos 18 anos, por um conhecido intolerante. Seu algoz, queria as atenções e os mimos da namorada da vítima, como não conseguiu, bateu na moça. Defendendo a honra da amada, o jovem foi tirar satisfações com o outro e resolveu nos sopapos. Em defesa do orgulho ferido, da frustração de não ter o que queria, o outro se apossou de uma arma e o matou com um tiro na cabeça, na frente da casa da moça, na presença da mesma.
Por que? Para que? O que ganhou com isso?
Esse fato triste e lamentável, repetido em tantas comunidades, famílias, cidades que enche a TV de notícias repetitivas, me pede para  pensar.
Porque os jovens não tem mais tolerância com a frustração? Porque ser privado de contentar um desejo desperta o pior destas pessoas? Onde aconteceu a falha?
Não sei todas as respostas, mas tenho hipóteses.
A sociedade atual muitas vezes propõe a contramão da educação autoritária que tínhamos antigamente. Torna-se permissiva, interfere pouco, cede demais. A família tem exigências que a retiram do tempo de educar, de estar junto, de transmitir valores. A escola assumi mal e perdida, parte deste processo. Junto a isso um estímulo constante da mídia ao consumo, além do desfile de desgraças e tragédias televisivas que "ensina" a criminalidade pela repetição. E tanta outra coisa que não dá para refletir aqui, assim, de supetão.
Mas tem um fato que me importa nisso tudo: interferir, ser exemplo positivo, explicar mil vezes, repreender com firmeza, remar contra a maré, dá trabalho e implica em responsabilidade assumida.
Com a vida cheia de atribulações ou também com preguiça de assumir as responsabilidades, é mais fácil ceder, não é?
Vejo-me nadando numa cultura social do  fácil e conveniente: comida pronta, fast food, control C control V, "tem o filme, não preciso ler o livro", lava rápido, estacionar na vaga reservada ao idoso, entrega em casa, "o médico é quem sabe", "o Dr advogado mandou", "pago a escola para ela resolver".. enfim, muitas formas. Supostamente são estratégias práticas de burlar as dificuldades da vida, sanar pressas, resolver as coisas com menos investimento de tempo ou menos compromisso com os resultados, afinal "alguém" assume.
Com a educação de crianças e jovens isso tem acontecido em escala alarmante. Delega-se à babá, à escola, ao Sistema, à seja lá quem for, o poder e a responsabilidade de transmitir valores, conhecimento, moral, regras e omite-se a participação integral de quem deveria estar à frente disso: a família, em todas as suas formas, construções e desconstruções.
Crescendo em ambientes sem mediação de nenhuma ordem,  pessoas tornam-se jovens sem referências, sem olhar para o outro, sem construir valores de convivência que reconheçam o sentido de comunidade, partilha, fraternidade..
Os valores que introjetamos na infância e na adolescência são base das condutas que adotaremos na vida. Se as referências são indesejáveis, nulas ou caóticas, assim serão os valores e as condutas.
Ter atitudes ajustadas ou desajustadas, depende  de muito mais do que seguir regras ou discordar delas, depende do que se introjetou e de que código de ética o grupo tem, para começar.
Deveres tem que ser mais importantes do que frustrações. O senso de responsabilidade com o grupo deve ser considerado e não não cumprir com este código deveria gerar culpa, ou estaremos nas raias da psicopatia.
Mas o que estamos ensinando, como sociedade, quando toleramos condutas indesejáveis numa margem cada vez mais extensa? Pequenos desvios a valores básicos são esperados para todo mundo, vez ou outra, mas matar por motivo fútil? Beber, dirigir e matar? Agredir a socos por intolerância?... vai pra onde?
A sociedade pode até tolerar certos erros, mas deve impor limites e consequências claros. A começar em casa, na família, no lugar de origem.
Além de olhos arregalados, caras e bocas, o que está e fato se fazendo em casa e nas escolas para mudar este tão trágico quadro social?
E a escola dos seus filhos, olha para estas questões?
Fecho sem fechar... este tema não está no fim, mas no começo de uma importante discussão.
Bons ventos!