Cultura da intolerância, uma resposta para a educação permissiva?

Vou burlar minha própria proposta e inserir aqui um texto que não se insere na continuidade dos estudos sobre a crianças que propus anteriormente. Vem de urgência, mas toca de todo modo na questão da responsabilidade educacional das famílias, da escola e da sociedade.
Minha funcionária doméstica chegou triste. O filho de uma prima querida fora assassinado friamente, aos 18 anos, por um conhecido intolerante. Seu algoz, queria as atenções e os mimos da namorada da vítima, como não conseguiu, bateu na moça. Defendendo a honra da amada, o jovem foi tirar satisfações com o outro e resolveu nos sopapos. Em defesa do orgulho ferido, da frustração de não ter o que queria, o outro se apossou de uma arma e o matou com um tiro na cabeça, na frente da casa da moça, na presença da mesma.
Por que? Para que? O que ganhou com isso?
Esse fato triste e lamentável, repetido em tantas comunidades, famílias, cidades que enche a TV de notícias repetitivas, me pede para  pensar.
Porque os jovens não tem mais tolerância com a frustração? Porque ser privado de contentar um desejo desperta o pior destas pessoas? Onde aconteceu a falha?
Não sei todas as respostas, mas tenho hipóteses.
A sociedade atual muitas vezes propõe a contramão da educação autoritária que tínhamos antigamente. Torna-se permissiva, interfere pouco, cede demais. A família tem exigências que a retiram do tempo de educar, de estar junto, de transmitir valores. A escola assumi mal e perdida, parte deste processo. Junto a isso um estímulo constante da mídia ao consumo, além do desfile de desgraças e tragédias televisivas que "ensina" a criminalidade pela repetição. E tanta outra coisa que não dá para refletir aqui, assim, de supetão.
Mas tem um fato que me importa nisso tudo: interferir, ser exemplo positivo, explicar mil vezes, repreender com firmeza, remar contra a maré, dá trabalho e implica em responsabilidade assumida.
Com a vida cheia de atribulações ou também com preguiça de assumir as responsabilidades, é mais fácil ceder, não é?
Vejo-me nadando numa cultura social do  fácil e conveniente: comida pronta, fast food, control C control V, "tem o filme, não preciso ler o livro", lava rápido, estacionar na vaga reservada ao idoso, entrega em casa, "o médico é quem sabe", "o Dr advogado mandou", "pago a escola para ela resolver".. enfim, muitas formas. Supostamente são estratégias práticas de burlar as dificuldades da vida, sanar pressas, resolver as coisas com menos investimento de tempo ou menos compromisso com os resultados, afinal "alguém" assume.
Com a educação de crianças e jovens isso tem acontecido em escala alarmante. Delega-se à babá, à escola, ao Sistema, à seja lá quem for, o poder e a responsabilidade de transmitir valores, conhecimento, moral, regras e omite-se a participação integral de quem deveria estar à frente disso: a família, em todas as suas formas, construções e desconstruções.
Crescendo em ambientes sem mediação de nenhuma ordem,  pessoas tornam-se jovens sem referências, sem olhar para o outro, sem construir valores de convivência que reconheçam o sentido de comunidade, partilha, fraternidade..
Os valores que introjetamos na infância e na adolescência são base das condutas que adotaremos na vida. Se as referências são indesejáveis, nulas ou caóticas, assim serão os valores e as condutas.
Ter atitudes ajustadas ou desajustadas, depende  de muito mais do que seguir regras ou discordar delas, depende do que se introjetou e de que código de ética o grupo tem, para começar.
Deveres tem que ser mais importantes do que frustrações. O senso de responsabilidade com o grupo deve ser considerado e não não cumprir com este código deveria gerar culpa, ou estaremos nas raias da psicopatia.
Mas o que estamos ensinando, como sociedade, quando toleramos condutas indesejáveis numa margem cada vez mais extensa? Pequenos desvios a valores básicos são esperados para todo mundo, vez ou outra, mas matar por motivo fútil? Beber, dirigir e matar? Agredir a socos por intolerância?... vai pra onde?
A sociedade pode até tolerar certos erros, mas deve impor limites e consequências claros. A começar em casa, na família, no lugar de origem.
Além de olhos arregalados, caras e bocas, o que está e fato se fazendo em casa e nas escolas para mudar este tão trágico quadro social?
E a escola dos seus filhos, olha para estas questões?
Fecho sem fechar... este tema não está no fim, mas no começo de uma importante discussão.
Bons ventos!


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