Qualquer um ensina arte... a lição do monge mostra que não!


Pois esta afirmação aparece muitas vezes em conversas soltas nas minhas andanças pelo mundo. Porque será que associam a arte em suas diversas formas, como expressão unicamente espontânea e desvinculada dos demais saberes do ensino?
Ouvi de novo.
Mas desta vez lembrei de um antigo conto indiano que serve como resposta:

Certo rei estava aprendendo a meditar. Após suas primeiras aulas de meditação, desejou adquirir rapidamente saberes mais avançados. Procurou então o Monge que era seu mestre e solicitou que logo o ensinasse o mantram que os mais adiantados usavam em suas práticas. O experiente monge sorriu com suavidade e respondeu:
Não posso ensinar-lhe, acho que ainda não está preparado.
O rei muito ofendido disse raivoso: Claro que pode, tenho total condição de entoar exatamente como você. Exijo que me ensine agora.
O monge solicitou então ao guarda que vigiava silencioso: Bata nele por mim!
Ao ouvir a solicitação o guarda arregalou os olhos, mas não se mexeu. Concentrou-se em espantar-se e ficar calado olhando o chão.
O monge repetiu: Bata no rei por mim! Nada aconteceu.
Disse então ao rei: Peça a ele que me bata.
O rei prontamente ordenou ao guarda que o fizesse.
O rapaz sem pestanejar, avançou para o monge e deu-lhe um soco que o fez cair no chão.
O monge levantou-se, olhou o rei e saiu do recinto.


A lição do monge ao rei ilustra bem meus sentimentos. Pensar estar preparado é bem diferente de estar.
E aquilo que um está pronto e tem condição de executar não quer dizer que todos podem.
Eu diria que todo mundo consegue navegar pelo mundo da Arte à sua maneira, com sua expressão pessoal e explorando com seus instrumentos.
Mas estar amparado por conhecimento técnico e educativo faz a diferença entre a "fazeção" de coisas e o ensino da arte.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que a disciplina saia do espaço de "perfumaria" de muitas escolas e seja respeitada em sua amplitude e importância na formação humana.
Um caminho que vem sendo traçado com conquistas a cada passo por inúmeros profissionais competentes e bem preparados.
Mas esta competência e preparo, também passam pela disponibilidade interna para viver e aprender novos conceitos e paradigmas. Nem sempre os títulos vem acompanhados da sabedoria que lhes é atribuída.

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